"Pater", "mater" e "espírito santo", a teoria esotérica das três idades do ser humano coloca o fulcro na síntese ordenada a partir de uma fase paternalista, dominante, e uma fase maternalista, reinando progressivamente, mas, ao invés de se operar uma revolução evolucionária do ser humano, mais se verifica um eterno reviver de eras, ao qual o feminino diz progressivamente mais. A nova idade é feminina, a nova era pertence à mulher, e, não obstante, o feminismo cerra fileiras, como se uma dose absurda de frustração surgisse das entranhas da mulher, muitas vezes mal representada pela histeria, ou histrionismo, de umas poucas.
Discuti isto muitas vezes com a Maria Teresa Horta na sua página. É verdade que o paternalismo dominou durante milénios. A própria espiritualidade é tendente a considerar o homem como representante do bem e a mulher como símbolo do mal. O homem é deus, Brahman, Yang, o lado subtil e espiritual. É "pater" dominando a História, reificando os valores. A mulher é Lilith, Eva, Pandora, Maya (ilusão), Yin, o lado denso e material. É "mater" dominando a partir da modernidade "mater-ialista", destruindo os valores antigos e vindo trazer a erosão do tempo, do mesmo modo que, na mitologia grega, a mulher teria sido criada para distrair o homem de chegar à sua condição superior, ao estado de deus.
Para o paternalismo, o tempo dos grandes valores, do vero ideal, é ante-moderno, "clássico" ou "arqueológico" no sentido dado por Foucault, e o novo tempo materialista vem demolir o que poderia ser visto como dado adquirido e estrutural. Curiosamente, o novo tempo vem de facto desconstruir muitos dos antigos códigos, a ciência materialista vem esbater o dogmatismo espiritualista, e um sistema de nobres é substituído por um outro, mais liberal.
O novo sistema dá novel oportunidade às mulheres e elas aproveitam o renovado contexto, bem como certas oportunidades (históricas), para virem afirmar a sua importância. Não, não são o "mal", são o antigo "segundo sexo" (Beauvoir) agora vivificado. Porque é o próprio valor da igualdade que propende que estas tenham igual dose de direitos, e, bem vendo, nada há que faça pensar ser o período "mater" inferior ao período "pater". Sem dispormos de grandes dados sobre o "ideal" de cada modelo, não podemos deixar de considerar justa a pretensão da "mulher" de querer ser "igual" nos direitos. Quiçá possa vir a dominar, a facultar novo paradigma, era renovada em "feminino", mas isto é, a bem ver, substituir um paradigma por outro, será isto justiça, ou bastar-se-á em "eterno retorno"?
Há um novo tipo de feminismo, mais extremista, a eclodir. Ele não pretende apenas firmar o seu lugar em escala de equilíbrio, ele quer colocar a mulher no pedestal do direito, da qualidade, do eixo de condução do tempo. Ele faz-se de novas amazonas, não as antigas lutadoras fabris, não as Yourcenar ou Virgínia Woolfs, o que desponta é um grito de frustração histriónica, um salto de conversão histérica do complexo em super-poderes, não, o que aí vem é a super-mulher, desengonçada, muitas vezes inculta, despida de razão.
Talvez fosse justo eclodir novo período, desta vez com o "domus" em feminino, decerto que a igualdade é desejada — não a igualdade absoluta (porque homens e mulheres são diferentes), mas sim a igualdade de oportunidades —, mas o novo feminismo é patético, as feministas da Nova Era são uma vergonha para as antigas feministas (nisso fazem lembrar os novos sindicalistas, que encheriam de pejo os antigos trabalhadores, das pretéritas lutas), banalizam completamente a figura da própria mulher, substituem a imagem da inteligência pela de uma aura de deusa funesta, não, não se trata de Atena ou Diana, belíssimas e independentes, é Hera toldando tudo e todos porque não pôde ser Zeus em tempo próprio.
Um dia, far-se-á a igualdade plena, hermafrodita de (in)condição, ninguém poderá dizer que a caixa de maldades virá de Lilith ou Pandora, porque lá dentro, como sabemos, subsistiu a esperança.