O nazismo está na moda nas livrarias portuguesas

Nas bancas, a maioria dos livros aborda o nazismo sob o prisma da curiosidade

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Michael Dalder/Reuters

Mais de 70 anos sobre o final da II Guerra Mundial, em Maio de 1945, o tema do nazismo continua "em alta" nas livrarias portuguesas, mesmo que os motivos não sejam claros, embora editores falem da aceitação do mercado. "Não sei que dizer sobre a grande voga do tema", disse à Lusa o historiador e jornalista António Louçã, autor de uma tese sobre Portugal e o ouro nazi, reconhecendo que a situação lhe passou ao lado, enquanto o editor Guilherme Pires, afirma que a profusão é determinada "pelo mercado e pela relevância do tema".

A poucas semanas do Natal as livrarias encheram-se de livros sobre Hitler e o nazismo, oferta que ainda perdura e, na mesma altura, foi anunciada a nova versão portuguesa do livro "maldito" do líder nazi Adolf Hitler, "Mein Kampf" ("A minha luta"), que a editora E-Primatur garante ser uma tradução integral, a primeira no país, após uma pioneira versão parcial, lançada em 1975 pela Afrodite/Edições Ribeiro de Mello.

Nas bancas, a maioria dos livros aborda o nazismo sob o prisma da curiosidade — como em "Mulheres de Hitler", de François Delpla (Estampa), "O Último Dia de Hitler, Minuto a Minuto", de Jonathan Mayo (Self, 2015), ou "Segredos do III Reich", Guido Knopp (Esfera dos Livros, 2015). E há poucas obras com doutrina e exaltação ideológica.

O historiador e jornalista António Louçã diz não encontrar "razões para esta tendência editorial". Ele próprio é autor de um livro, com quase 20 anos, "Negócios com Nazis - Ouro e Outras Pilhagens, 1933-1945" (Varia, 1997), recuperado agora para os escaparates das livrarias. "É uma colectânea de vários textos meus, já bastante antigos", afirmou o historiador e jornalista à Lusa. "Aponta para a investigação do ouro nazi (entre outras pilhagens levadas a cabo), e que foi discutida nos anos seguintes. Ou seja: não era um tema que ficasse esgotado em 1945. Nessa altura estava precisamente a começar, através de laboriosas negociações da Comissão Tripartida [EUA - Reino Unido - França], que apenas ficariam concluídas em 1948.

Mas em todos esses anos não há uma data que seja marco milenar e possa ser evocada em aniversários redondos", disse à Lusa Louçã, que investiga o destino do chamado ouro nazi. Lado a lado com versões portuguesas, como "O Império de Hitler - O Domínio Nazi na Europa Ocupada", de Mark Mazower (Edições 70), há diversas edições estrangeiras, como "La Waffen SS", de Jean-Luc Leleu, (Perrin, 2010), e "Portraits Nazis", de Werner Best (Perrin, 2015).

Fonte da editora A Esfera dos Livros, também presente neste retorno com, por exemplo, "Segredos do III Reich" (Guido Knopp, 2015) afirmou que esta edição, saída em janeiro de 2015, "foi, de facto, uma forma de assinalar os 70 anos sobre o fim da Segunda Guerra." Mas, ressalva a sua assessora de comunicação, dos livros do seu catálogo relacionados com esse período da história mundial, nenhum foi reeditado recentemente".

Campos de concentração

"Auschwitz, Um Dia e Cada Vez", de Esther Mucznik, é outro livro desta editora, com grande destaque nas prateleiras, a dar o mote para outro tema que parece lucrativo — o dos campos de concentração. Os livreiros são lacónicos quando falam de vendas. Um deles, a trabalhar numa grande superfície, mas falando sob anonimato, precisou que os livros do nazismo "vendem-se mais ou menos". Instado a precisar a afirmação, acrescentou: "Meia dúzia por mês, não mais do que isso".

Entre os livros sobre o nazismo destaca-se uma nova edição de "Hitler", uma densa biografia do ditador, escrita por Ian Kershaw, publicada em dois volumes, pela Companhia das Letras, no mercado brasileiro, lançada em Portugal num só volume, pela Dom Quixote. Nestes dias, os campos de extermínio e o Holocausto ocupam boa parte do espaço das livrarias, com títulos para todos os géneros: "As Primeiras Vítimas de Hitler", de Timothy Ryback (Editorial Presença, 2015), "Bebés de Auschwitz", de Wendy Holden (Vogais, 2015), de que já se prepara a terceira edição, "Portugueses nos Campos de Concentração Nazis", de Patrícia Carvalho (Vogais, 2015), ou "Sobrevivi ao Holocausto", de Nanette Blitz Konig (Vogais, 2015).

A Vogais, do grupo editorial 20/20, continua empenhada e a dar-se bem, com este revivalismo editorial. O seu editor, Guilherme Pires, reconhece que as vendas o deixam satisfeito e que mais títulos vêm a caminho. Esta profusão é determinada "pelo mercado e pela relevância do tema", disse à Lusa o editor, que salientou "o espaço muito importante" que o nazismo e a II Guerra Mundial ocupam nas grandes feiras livreiras internacionais. "Há muito público para os livros de História e o tema foi de tal forma marcante na História e formação da Europa, que não sai [de catálogo]. E todos os anos, em todo o mundo, há inúmeros novos títulos, com novos ângulos e perspectivas", justificou.

"A decisão de lançarmos este livro não se prendeu com nenhum outro motivo, além dos evidentes", afirmou. "É uma obra extraordinária, 2015 foi o ano em que se comemorou o 70.º aniversário do fim da II Guerra Mundial, é sempre uma temática de grande aceitação e interesse por parte dos leitores". A efeméride também serve de justificação para o lançamento de "As Primeiras Vítimas de Hitler. Em Busca da Justiça", de Timothy Ryback (Jacarandá, 2015). "É uma obra extraordinária", disse à Lusa Manuela Feijão, da editora.