Último artigo de Hawking diz que os universos paralelos não são assim tão diferentes do nosso

Teoria desenvolvida ao longo de duas décadas dá uma visão mais “simples” do que aconteceu desde o Big Bang, há cerca de 13.800 milhões de anos, e sugere que os universos paralelos se regem pelas mesmas leis da física.

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O físico britânico morreu a 14 de Março, o mesmo dia em que nascera Albert Einstein há 139 anos Mike Hutchings/Reuters

O último artigo sobre a origem do nosso Universo e dos universos paralelos daí resultantes, da autoria do físico britânico Stephen Hawking, foi revelado na semana passada e dá a entender que o multiverso, o conjunto de universos possíveis, é finito e “muito mais simples” do que se pensava até agora. O trabalho, intitulado “Uma saída suave da inflação eterna?” (“A smooth exit from eternal inflation?”, no original) foi publicado no final de Abril na revista científica Journal of High-Energy Physics. A teoria foi desenvolvida ao longo de 20 anos, ao lado do cientista belga Thomas Hertog, da Universidade Católica de Lovaina, e foi submetida à revista dez dias antes de o físico morrer.

O britânico Stephen Hawking tinha postulado em 1980 (juntamente com o norte-americano James Hartle) que o Big Bang tinha criado não só o nosso Universo, como também universos infinitos, com diferentes leis entre si. Como, em teoria, tudo seria possível num universo paralelo, não haveria maneira de garantir que as leis da física seriam as mesmas do que aquelas que se aplicam ao nosso cosmos.

Este último trabalho de investigação desenvolvido por Hawking antes da sua morte, a 14 de Março deste ano, aponta uma solução para este problema, dizendo que o nosso Universo é apenas um entre muitos universos parecidos, que se regem pelas mesmas leis.

Estas conclusões já tinham sido anunciadas em Julho do ano passado, numa conferência em Cambridge, na altura em que Hawking celebrava o seu 75.º aniversário.  

Menos universos possíveis

Como explica Thomas Hertog num vídeo partilhado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla inglesa), esta teoria defende que, com o Big Bang, surgiu não só um Universo mas “muitos, muitos, muitos” — aquilo a que se chama um “multiverso”. O problema das teorias do multiverso, dada a sua diversidade, é que não faziam muitas previsões sobre o nosso próprio Universo, explica Hertog, já que tudo seria possível e as suas leis diferentes.

Esta nova teoria, diz Hertog, corrige esse problema, ao reduzir este vasto multiverso a algo mais “pequeno e maleável”. Segundo o comunicado da ERC em que é apresentado o estudo, Hawking dizia: “Não ficamos reduzidos a um único Universo específico, mas as nossas conclusões implicam uma redução significativa do multiverso para um intervalo mais pequeno de universos possíveis.”

Assim, esta nova teoria faz mais previsões e é “muito mais forte enquanto teoria científica” — e, espera Hertog, pode mais facilmente vir a ser comprovada.

Hawking e Hertog defenderam ainda que o Universo é finito e não, como muitos cientistas pensam, que vai expandir-se eternamente. 

Estas novas conclusões podem ainda auxiliar os investigadores a encontrar universos paralelos (ao estudar a radiação cósmica de fundo criada pelo Big Bang, que agora vemos como microondas) e a saber como se comportam, já que presumem que as leis da física do nosso Universo sejam as mesmas num paralelo.  

“O próprio Stephen disse que este trabalho era a área de que mais estava orgulhoso”, contou ao jornal britânico The Guardian o físico Malcolm Perry, que trabalhava com Hawking em Cambridge. Ainda que esta tenha sido a última investigação em que Stephen Hawking trabalhou, haverá ainda outros artigos que virão a ser publicados com o prestigiado nome do cientista britânico: Perry explicou que escreveu dois artigos sobre buracos negros com Hawking, mas que nenhum foi ainda publicado.

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