Demasiadas mortes têm resultado do uso indevido das religiões, usos que se ligam ao excesso. E o que foi feito? Obviamente que, quando consumidas com moderação e tolerância, as religiões trazem benefícios à saúde humana. Mas, no ambiente propício, podem sofrer imensas e imprevisíveis mutações.
Podem tornar-se extremistas, capazes de impactos ora muito positivos ora muito negativos. Para além dos efeitos do meio envolvente, o organismo dos portadores da crença pode determinar os efeitos desse consumo excessivo. Em indivíduos mentalmente saudáveis e socialmente integrados o risco para a saúde humana é muitíssimo baixo. Tal como em muitos outros produtos que podem ter efeitos catastróficos na saúde humana, será necessário fazer campanhas de sensibilização para o consumo excessivo e radical de religião.
Apesar disso, a crença organizada não pode nem deve ser proibida, pois muito de positivo se poderia perder, incluindo a capacidade de lutar contras outras maleitas próprias da condição humana. Não é a proibição ou condicionamento dos seus benefícios que está em causa, mas sim a sua intensidade e efeitos que o potencial sobreconsumo pode ter na vida dos próprios e terceiros. A garantia da saúde pública tem de ser compatibilizada com a garantia da liberdade individual e coletiva.
Continue-se com a total liberalização das formas de “religiões leves”, mas alerte-se a sociedade para os perigos resultantes do consumo de formas de “religiões pesadas”. Coloquem-se avisos nos locais e objetos de consumo, aposte-se na prevenção mas depois também nas ferramentas sociais de tratamento e desintoxicação.
Estamos perante problemas concretos de saúde pública, pelo que se torna imperativo apostar nas duas frentes. Ambas as soluções terão de recorrer à tolerância e razão. Caso contrário, poderão surgir outras novas doenças sociais, igualmente mortais, como a xenofobia, racismo e ódios de toda natureza.