Houve duas febres japonesas em Portugal, quase a chegar ao novo milénio, conduzidas por dois títulos — a série de televisão “Dragon Ball” e o videojogo “Pokémon”. Hoje, escrevo sobre a “pokémania” que assolou o país. Poucos saberão, ou mesmo se vão lembrar, que o lançamento dos primeiros jogos “Pokémon”, as edições “Blue” e “Red”, aconteceu no dia 15 de Outubro de 1999, na vila de Monte Real, tendo a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Leiria autorizado que a localidade mudasse de nome temporariamente para Pokémonte Real. Um evidente trocadilho entre o nome da vila e o videojogo.
Nessa ocasião, mais de 70 crianças das escolas locais foram convidadas para participar em várias actividades, baseadas nas aventuras do jogo. Ricardo Feist, director de "marketing" da Concentra SA (na data, os distribuidores oficiais da Nintendo em Portugal), afirmou que pretendiam vender 50.000 cópias dos dois títulos até ao final do ano.
O orçamento de "marketing" chegava aos 35 mil contos, onde se incluiu a série de televisão, que já estava a dar na "SIC" há algumas semanas, introduzindo alguns conceitos do jogo, e claro, a popular frase: “Vou apanhá-los todos”. Agora, passado estes anos, talvez Feist tivesse sido bastante humilde nas suas expectativas. Ou, então, nem tinha consciência da amplitude da "pokémania" que estava prestes a lançar em Portugal. Certamente que mais de 50.000 jogos foram vendidos.
"Pokemánia" em todo o lado
“Pokémon”, fosse “Red” ou “Blue”, foi um daqueles títulos que foram pedidos conjuntamente como sendo prenda de anos e de Natal. Sendo que os grandes sortudos foram aqueles que conseguiram comprar a versão especial do Game Boy Color, num tom amarelo, tematizada com as personagens do jogo.
Além dos videojogos, também o jogo de cartas “Pokémon Trading Card Game” foi extremamente popular na época, rivalizando com “Magic the Gathering”. Não faltavam recreios onde crianças, e turmas inteiras, ou estavam agarradas ao seu Game Boy ou trocavam e batalhavam através das cartas. Depois, claro, havia igualmente uma imensidade de "merchandising" da marca Pokémon, como brinquedos, roupas, canetas, às quais qualquer jovem não podia resistir.
Afinal, tinham de “apanhá-los todos”. Uma coisa é certa, toda esta "pokémania" marcou muitos jovens em Portugal e, por aquilo que consegui apurar nas comunidades de videojogos actuais, deixou grandes marcas. Muitas horas a treinar Pokémons, a procurar o elusivo Mew para completar a lista dos 151 Pokémons, e claro, em batalhas, ou partilhas com os colegas, utilizando o famoso cabo do Game Boy. Eventualmente, saíram mais versões do videojogo e “spin-offs”: “Pokémon Yellow”, “Stadium”, “Trading Card Game”, “Puzzle League”, “Snap”... e isto são só alguns dos títulos da primeira geração.
Nos anos seguintes, evidentemente, a "pokémania" continuou, mas talvez não tenha sido tão forte como no final dos anos 90, e início do milénio. Pessoalmente, nunca consegui encontrar mais que 122 Pokémons, na minha versão “Blue”. Por isso falhei, e não “apanhei-os todos”. Alguém tem aí um Mew para troca?