Política para totós

Quanto mais conheço as propostas e os princípios dos partidos, mais descrente fico em relação a todos eles

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Aproximam-se as legislativas e, tal como numa altura de saldos, andamos todos à procura do melhor negócio. Os partidos procuram conquistar mais eleitores, logo mais poder, e os eleitores tentam descobrir qual o partido que prejudicará menos a nossa nação – não me atrevo a ter esperanças infundadas de um progresso próspero.

Leiga nestas temáticas, como acredito que seja boa parte do eleitorado, ando à caça de informações, discursos, vídeos, e até chego a frequentar eventos de cariz político, com vista a conseguir votar de forma consciente. O grande problema nesta minha busca reside numa simples questão: quanto mais conheço as propostas e os princípios dos partidos, mais descrente fico em relação a todos eles.

Se me volto para a Direita, mesmo que mais aproximada do Centro, vejo um discurso centrado no dinheiro, nos esforços, no suposto caminho triunfante que temos percorrido nos últimos quatro anos. No programa da coligação pode ler-se: “Este não é o tempo de por tudo em risco e de voltar para trás, mas de caminhar com sobriedade e com contenção”…. Um apelo ao medo, mais do que à competência. Como seria de esperar, neste programa a componente social passa para um plano secundário, onde ideias conservadoras impedem o progresso social. É importante ter estabilidade, mas ainda mais importante é o bem-estar da população, e esse não parecer ser prioridade.

Voltando-me para a Esquerda, existem três partidos mais citados, com especial ênfase no PS pela sua popularidade. Neste partido aparenta existir uma maior consideração pelas questões sociais, no entanto, e talvez por conta de alguns elementos que dele fazem parte, o programa do PS deixa algumas pistas preocupantes. Uma delas é o apoio ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, TTIP para os amigos, uma proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos – se não conhece este acordo, não se sinta mal, dado que tem sido tratado com tal secretismo, que ainda nem sabemos concretamente o seu grau de ameaça. Embora o PS possa parecer a melhor aposta para quem suporta as causas sociais, a dimensão deste partido atrai o interesse de determinadas pessoas e/ou organizações, que pode ser bastante problemático.

Na Esquerda, e com bastante tradição, temos ainda o PCP, um partido que aclama estar à altura das responsabilidades de governação, mas que, mesmo atendendo que tem uma parcela fiel do eleitorado, nunca lá chegará a não ser como parte de uma coligação com o PS. É um partido que vive na constante luta entre a união da Esquerda e o ataque ao PS, tornando-se imprevisível.

Por último, temos o BE que, como referiu Pedro Sales no Fórum Socialismo, é o Belenenses da política: um clube “fofo”, todos gostam, mas de quem ninguém é. O BE fica sempre entre a simpatia que espoleta junto do eleitorado, pelo humanismo que imprime na sua campanha, e a falta de credibilidade que aparenta demonstrar. As ideias que discutem são extremamente pertinentes, acredito que são o partido que procura discutir mais temáticas, no entanto, e pelo seu discurso incendiário, acaba por não ser levado a sério. Eu compreendo a revolta, partilho-a, mas na política a contenção é uma qualidade, até porque o objetivo é (ou deveria ser!) a discussão. É um partido onde o conservadorismo não tem lugar, fomentado pela juventude, com bons ideais, mas que, tal como o Belenenses, ninguém espera que vença.

Percorridos os partidos que têm conquistado mais eleitores ao longo dos últimos anos, conseguimos perceber que a escolha não é simples. Cada vez mais acredito que os partidos são quem os compõe, pelo que deveríamos votar nas pessoas, ou invés dos seus rótulos partidários. Em quem vou votar? Ainda não sei, mas seguramente que irei votar, até porque esse é um direito que me pertence e do qual não pretendo prescindir, mesmo que dele resulte um papel em branco.

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