Quando o Santo António desce à cidade de Lisboa

Como é bom ser portuguesa e viver estas tradições imersa no meu país e não pelo Skype

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Guillaume Maciel/Flickr

Junho, estamos no mês mais bonito de Lisboa! Ainda está o Santo António à porta dela e já as ruas se enchem de enfeites de várias cores, tornando-as vibrantes, os manjericos ganham burguesia e saltam para as ruas ostensivamente, acompanhados de uma voz histérica de fundo, que diz: “Não se pode cheirar diretamente!”, alimentando o seu ego à passagem de cada transeunte espevitado. As roupas perfumam-se com o cheirinho das sardinhas, as esplanadas roubam com usura espaço às ruas, a música bairrista torna-se ubiquista e a boa disposição uma constante. Parece que estamos dentro de um filme de Vasco Santana. Pois, muito bem, estamos em estágio para a noite de Santo António!

Como é bom ser portuguesa e viver estas tradições imersa no meu país e não pelo Skype. Conhece-se uma Lisboa descalça, que abraça todos os seus limítrofes, fazendo-os convergir para o seu castelo, empório do mês de Junho, convidando-nos. Pitoresca e castiça, Lisboa menina e moça, toda vaidosa com as suas cores e gente. As ruas esconsas desde a Bica, Sé e Alfama ganham alma e intensidade, as portas das casas abrem-se com bancadas improvisadas à português, onde se vende quase tudo. Os olhos espreitam com curiosidade para as janelas da intimidade alheia. Aguardam-se as marchas, fazem-se apostas, fala-se alto, as mãos seguram copos toscos de vinho, pedaços de pão fatiado com sardinha, lábios besuntados e mãos pegajosas. Cheira a farturas, a bifanas, a cerveja, cheira a Portugal.

Senhoras de mão na anca e arca no regaço vendem “mines” a um euro, pernas apressadas, despem-se de preconceitos e enfileiram-se no "apita o comboio" do bailarico, a distribuir sorrisos gratuitos para desconhecidos. Travam-se novas amizades e os encontros marcados com os amigos perdem-se nos degraus da confusão, uns desaparecem pelo caminho, juntam-se outros e encontra-se quem não se vê há tanto. Desespera-se e aceitam-se subornos por uma casa de banho e estala-se o verniz com a escassez dos táxis. É a beleza dos santos populares.

O espírito de um português não é estreito: adoro o meu país, adoro ser portuguesa. Descansa-se o olhar ao relento sobre o Tejo, nas Portas do Sol, bebe-se com frescura a beleza indescritível de Lisboa, cidade a ponto de luz bordada, degustamos com amor uma saudade presente. É a Lisboa que Carlos do Carmo descreve, cidade amor da minha vida!

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