Onde está o investimento nacional para videojogos?

Se continuarem a ignorar os estúdios nacionais, temo que estes continuem-se a mudar para outros países

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Que não haja dúvidas. Os videojogos representam a maior indústria de entretenimento do mundo e a mais lucrativa de sempre deste milénio. Há aqui dinheiro, projecção internacional e, mais importante, uma máquina imparável para criatividade e inovação. Mas então o que se passa no nosso país?

Deixem-me estabelecer aqui um paralelismo com a Itália para mais facilmente explicar a nossa situação no espaço europeu. Não só é um país latino, como era igualmente um território mais consumidor de jogos do que produtor. Mas, tal como nós, desde 2011 começaram a ter produção nacional e, neste momento, existem cerca de 100 empresas.

Recentemente, a associação de comércio italiana (AESVI), juntamente com o ministro italiano da economia e desenvolvimento compraram espaço na GDC de São Francisco (um dos maiores eventos de videojogos) para que uma dúzia de estúdios italianos promovessem os seus jogos com maior facilidade, trazendo assim igualmente investimento para o país. O vice-ministro, Carlo Calenda, até afirmou que o mercado dos videojogos representa actualmente "um emergente sector, entre a inovação e criatividade, que pode ajudar decisivamente a Itália". "Estamos a dar esta oportunidade aos nossos estúdios para serem competitivos e lucrativos no mercado internacional”, disse.

Quando falo com os estúdios portugueses, a realidade é diferente e ao mesmo tempo semelhante. Tal como Itália, nós éramos um país mais consumista do que produtor de videojogos, mas essa situação mudou. Desde 2011 até agora temos mais de 50 empresas neste sector e a qualidade tem subido. Aliás, neste momento tanto a Microsoft como a Sony têm feito parcerias para que os “nossos” jogos apareçam nas suas plataformas. A Biodroid e a Upfall Studios têm títulos previstos para serem lançados este ano na Xbox One e em Novembro do ano passado o VP Sénior da Sony, James Anderson, esteve em Portugal com o objectivo de colocar os jogos portugueses nas consolas da sua marca. Sem esquecer que a Miniclip (uma das maiores produtoras internacionais) tem uma filial sediada em Portugal que produz todos os títulos "mobile" da empresa. Hambo, Gravity Guy ou 8 Ball Pool são todos jogos Made in Portugal que andam sempre no top 50 das principais lojas.

Quanto ao Governo português, continua com o seu discurso de “exportar o produto nacional” ou que é “necessário revitalizar a indústria nacional”. Na prática, estão completamente a ignorar a indústria mais lucrativa do mundo no ramo do entretenimento, assim como o produto mais facilmente exportável. Se houver dúvidas, deixo mais um exemplo: a empresa nacional Battlesheep tem um jogo com 10 milhões de "downloads", quase tantos como a população portuguesa. Curiosamente, desses todos, só 20 são portugueses. O resto são internacionais.

A verdade é que o investimento praticamente não existe e o Estado ignora por completo esta indústria. Mas há uma excepção — as taxas e os impostos. Aí sim, não se esquecem dos portugueses que estão a tentar vingar neste competitivo mercado. A situação fiscal é tão drástica que nos últimos anos muitos estúdios nacionais saíram de Portugal e estão sediados em países que já se aperceberam que a indústria dos videojogos é um negócio sério, com muitas benesses para o seu país. Por outras palavras, a Alemanha, o Reino Unido e a França criaram programas de apoio fiscal com benefícios, isentando as empresas de videojogos de impostos durante um período entre 12 a 24 meses. Afinal produzir um videojogo leva tempo e mais vale que as empresas tenham espaço de trabalho do que serem afogadas em taxas e impostos logo a partir do dia 1. Só no Reino Unido esta estratégia de longo prazo rendeu ao seu território, em 2013, 2,4 milhões de libras (quase 3 milhões de euros), com uma taxa de crescimento prevista em 12% por ano.

Segundo o que apurei, tentativas juntos das entidades governamentais em Portugal têm sido fúteis. Nalguns casos quando é mencionada a indústria de videojogos nacional parece que estão a contar alguma anedota. Se continuarem a ignorar os estúdios nacionais, temo que estes continuem-se a mudar para outros países — esses sim, vão certamente rir-se como nós estamos a contribuir para a sua riqueza e não para a nossa.

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