No dia 18 de Março, esta quarta-feira, foi inaugurado o Banco Central Europeu. Foi também o dia em que convergiran em Frankfurt milhares de activistas e de organizações para contestar as políticas fanáticas do banco liderado por Mario Draghi. Foram gastos 1,3 mil milhões de euros na construção da fortaleza que é a sede do banco. Como que para assinalar exactamente do que se trata, este edifício de duas torres tem um fosso a separá-lo da rua e um muro com arame farpado. Para uma economia de guerra, um banco central em guerra contra os cidadãos da Europa. Curiosamente foi também o 144.º aniversário da Comuna de Paris, um dia que representa exactamente o contrário desta celebração de fausto, de riqueza, arrogância e desigualdade.
A gala de inauguração contou com a presença de vários chefes de Estado e da oligarquia financeira europeia, de dentro, e de fora com um coro de acções e protestos contra as políticas do fosso de protecção e do arame farpado, contra as políticas do empobrecimento que fazem do BCE não uma organização responsável pela circulação da riqueza, mas sim uma organização política cuja objectivo é, desde o início, a concentração do dinheiro nas mãos da finança e da banca, nem que para isso seja preciso destruir o dinheiro que estava distribuído pelos povos europeus.
Quem ainda acalenta a benigna ideia de que a Europa se está a tornar uma federação de iguais não tem estado atento aos últimos anos. A União Europeia é neste momento um proto-império, com centro na França, Alemanha, Holanda e pouco mais. A ideia psicótica imposta por Merkel, Draghi, Barroso, Lagarde, Juncker e Dijsselbloem, de que todos os estados podem ao mesmo tempo reduzir as suas importações e aumentar as suas exportações não pertence ao domínio do real, pelo que a “competitividade” apregoada é, de facto, uma corrida para o precipício. Depois vem a ideia que se pode sair de uma crise reduzindo os salários de quem trabalha para aumentar os bónus de quem especula. As teorias usadas para suster a austeridade servem apenas para garantir de que a riqueza flui no sentido do centro da Europa, do centro do império. Não é de estranhar que Juncker tenha avançado na semana passada com a ideia de que deve haver um exército europeu. Não há império sem exército. Também é óbvio que o centro da riqueza esteja na Alemanha, e é exactamente por isso que o Banco Central Europeu vai para lá.
Será o regresso das grandes manifestações internacionais? A Seattle, a Génova? A contestação à austeridade na Europa fez-se até hoje principalmente a nível nacional, mas uma vez mais se apresenta a proposta de que só em articulação, no mínimo europeia, se pode começar a fazer recuar os barões ladrões, os banqueiros, a finança e os seus capatazes que hoje mandam na política europeia. O Blockupy, plataforma internacional organizou este protesto, está em contacto com a maior parte dos países da UE e testa uma vez mais a sua força. Lá estivemos! Contra a austeridade e a sua precariedade, contra a troika e o poder ilegítimo que instituições geridas pelo poder económico, sem sufrágio eleitoral e sem prestar contas a quem quer que seja continuem a tomar as decisões que determinam o nosso futuro.