Sobre emigração e brioches

A Europa é uma princesa doente, a qual culpa os imigrantes pelos males de que padece quando a noite acontece

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Armin Cifuentes/Flikr

Senhores, se fora de Portugal habitam cinco milhões de lusos e seus descendentes, tal facto não ocorre porque pura e simplesmente nos deu na real veneta aproveitar o embalo do mundo e as aventuras mil vividas no seu regaço e no seu ventre, sempre quente.

Não. Se vivemos fora de Portugal, fora de nós e de quem mais queremos, longe de tudo, longe da vida e longe da morte, é por necessidade, é por fome, é por saudade, é porque a isso somos obrigados desde o tempo dos "descobrimentos" onde os braços de Yemanjá foram em tudo maiores para além das guerras, das pragas e das misérias de uma Europa ainda hoje ensandecida, ainda hoje contra a humanidade, pelos seres humanos, mas apenas meia dúzia deles.

Porque, meus senhores, sendo vossas excelências quota parte responsáveis pelo desemprego, pela precariedade, pela baixa salarial, então a palavra é só uma: hipocrisia.

Porque não, porque os jovens não querem saber se têm mais ou menos oportunidades quando comparados com os jovens do antigamente, porque os jovens não querem viver sob o signo da emigração, porque a ansiedade já lá está desde que lhes cantam e lhes contam os dez anos mais o tio e a tia, ou a irmã mais velha, agora lá fora e à distância de um clique. Mas um clique não podia ser mais distante, porque não te consigo cheirar, porque não te consigo ver, ver acordar, ver falar ou ver dormir quando preciso de ti, agora lá fora, agora, hoje e sempre distante.

Toco o ecrã onde está a tua mão, mas não te sinto, e às vezes gostava que certas ministras das Finanças passassem pelo mesmo. E não, a Europa não está aberta à livre circulação de pessoas e bens: a Europa é uma princesa doente, a qual culpa os imigrantes pelos males de que padece quando a noite acontece. Meus senhores, falar de emigração com a ligeireza dos brioches é estar a pedi-las. Queira Deus não deixar um pai morrer só, porque entre apanhar e não apanhar um avião vai a distância deste voto, o qual não vai em vosso favor, mas em favor dos vossos filhos, os quais têm o direito de ver os pais morrer. Eu não.

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