Ora bem, primeiro e antes de tudo, deixem-me só explicar um pormenor essencial. O ZX Spectrum não é nenhuma consola. É um computador, ou aliás, um microcomputador, desenvolvido pela Sinclair Research, na altura propriedade de sir Clive Sinclair, que até recentemente recusava-se a falar do Spectrum como máquina de jogos. Na sua visão, os seus sistemas foram sim ferramentas de baixo custo que ensinaram às crianças como funcionava o mundo informático.
Há relativamente pouco tempo, chegou um novo projecto relacionado com este famoso sistema – o Spectrum Vega. Uma suposta consola inspirada no clássico ZX Spectrum 48K. Logo aqui, a premissa parece algo errada. Então, o mítico microcomputador agora é uma consola? Como se isso não bastasse, o Vega segue a estrutura do Spectrum, mas com peças soltas. Sinceramente, aquilo parece que atiraram o sistema à parede, e depois colaram as teclas sem ordem nenhuma. Ou se preferirem, é como se um garanhão dos anos 80, conhecido pelo seu sorriso estupendo, agora aparecesse como um homem de meia idade com meia-dúzia de dentes.
Nem sequer é ergonómico
É claro que agora podem dizer, “mas, ó Ivan, ao menos dá para jogar os jogos clássicos do Spectrum”. Ok, mas é por emulação. Nem sequer dá para ligar a um leitor de cassetes, ou mesmo a um de ficheiros MP3. Ou seja, qual é a diferença daquilo para o emulador que tenho no computador ou no telemóvel? Exactamente nenhuma. Esperem, minto. A diferença é que o Vega nem sequer é ergonómico.
Como é que aquela estrutura rectangular pode servir de comando? Aliás, pode ser que até funcione, mas só para jogos de 15 minutos. Uma hora a jogar com aquilo nas mãos não deve ser nada mansa para os pulsos. O ZX Spectrum 48K tinha um teclado, e por ser um computador estava sempre colocado numa superfície, sendo que muitos utilizavam o famoso QAOP (ou variantes), sendo que outros preferiam os populares "joysticks" Quickshot. O Vega utiliza um D-Pad e uma configuração de teclas... RFS12?
A verdade é que o projecto foi aprovado no Indiegogo e as 1000 unidades previstas já estão vendidas. Talvez ainda mais surpreendente é que sir Clive Sinclair aprovou o Vega. Tantos anos a apregoar como o Spectrum não era uma consola, mas, provavelmente o dinheiro do licenciamento mudou-lhe a opinião.
Antes de finalizar, deixo-vos um último detalhe que o meu colega Tiago Dias me apontou. Então o Vega afirma ser um sistema com saída de audio "stereo"? Mas, para quê? O Spectrum e todos os jogos eram Mono? Mais um exemplo da sua falsidade.
Se vou comprar um Spectrum Vega? Evidentemente que não. Prefiro investir o meu dinheiro num verdadeiro Spectrum, e não numa versão que só quer o conteúdo da minha carteira, apelando à nostalgia.