O nome não deixa margem para dúvidas: os vinhos da produtora portuguesa são a estrela do espaço, ocupando por completo a carta, assinando a decoração e orientando os eventos futuros. Apenas à mesa as atenções se dividem, com alguns petiscos indicados para acompanhar, claro, um copo ou uma garrafa de vinho da marca, dos brancos aos tintos ou moscatel. Outra coisa não seria de esperar. Afinal, estamos na primeira loja exclusiva de uma produtora de vinhos portuguesa, inaugurada oficialmente no final de Janeiro. Uma "relação de amizade de muitos anos" que resultou numa parceria entre os responsáveis pela By The Wine e a família Soares Franco, proprietária da empresa José Maria da Fonseca (JMF) desde a sua criação, em 1834.
"Havia uma vontade grande da JMF de ter uma loja da marca em Lisboa onde pudesse promover os seus vinhos e, ao mesmo tempo, havia da nossa parte muito interesse em fazer uma coisa deste género", conta Ricardo Santos, responsável pelo novo projecto. O resultado é um bar de vinhos, que é também petiscaria e loja (todas as garrafas podem ser consumidas no interior ou levadas para casa), e que, em pleno Chiado, "quer juntar portugueses e turistas" no "interlúdio da noite", mas também "contar a história de uma família". "Acresce aqui também esse interesse quase cultural do nosso país. Não é só um sítio onde se pode beber uma quantidade de vinhos", acrescenta.
Logo à entrada, as atenções viram-se, por isso, para o tecto, onde 3267 garrafas acompanham a curvatura das arcadas de pedra, criando um túnel de vidro verde. Ultrapassado o efeito estético, ficamos a saber que aquelas são garrafas bordalesas, utilizadas para engarrafar o Periquita, anunciado como o primeiro vinho tinto de mesa engarrafado em Portugal e uma das marcas mais conhecidas e antigas da empresa. Um pedaço da história da produtora, portanto, ao qual se juntam diversas fotografias (desde a primeira máquina de engarrafamento a prensas manuais ou publicidades antigas) e vários objectos centenários ligados ao vinho, como um banco de engarrafamento ou uma velha prensa.
Depois, claro, há muitas "histórias engraçadas da família", que "tentam sempre contar", como a do Moscatel Torna Viagem, que nasceu de um acaso. "José Maria da Fonseca tentou ir vender vinhos para o Brasil e levou um barco cheio, mas não conseguiu vendê-los todos e o que sobrou trouxe de volta. Quando chegou, o vinho estava melhor do que o que tinha ido e desde então repete-se esporadicamente a experiência", conta. São estas ligações, defende, que trazem ao By The Wine "um interesse especial" e "um carácter único".
O resto faz-se de copo e petisco na mão, ora no extenso balcão de madeira — ou barra, como lhe chama Ricardo, pois parte da inspiração veio de Sevilha (mas também de Nova Iorque) —, ora nas pequenas mesas que acompanham, na parede oposta, o corredor, ora na última ala, dividida entre mesas compridas e cadeirões intimistas.
O mais difícil será escolher o que provar. Nos vinhos, estão presentes quase todas as marcas da empresa: 42 opções fixas, entre espumantes, rosés, brancos, tintos, sem álcool, moscatéis e aguardentes, aos quais se vão juntando novas produções e garrafas da colecção privada produzida por Domingos Soares Franco. Já nos petiscos, além das tradicionais tábuas de enchidos (todos Carrasco-Guijuelo) e de queijos (onde não falta o de Azeitão, zona onde está sediada a produtora), há pão algarvio, ostras, ceviche de salmão, carpaccio e, "para rematar", prego do lombo e algumas sanduíches e sobremesas. "Queríamos diversificar a oferta gastronómica além do mais básico de um wine bar e, por isso, [a carta] vai também evoluindo ao longo do ano", conta o responsável, adiantando que, no Verão, "eventualmente terão uns camarões da costa ou uns perceves".
Em breve, deverão também começar a organizar alguns eventos — como apresentações de novos vinhos da marca, encontros com enólogos da empresa ou provas de vinhos — e abrir à segunda-feira, estendendo-se assim a todos os dias da semana. O que não está nos planos é alargar o horário. "Não queremos tornar isto num bar de copos à noite", mas sim "um sítio onde as pessoas possam vir ao fim do dia beber um copo, picar umas coisas e depois, se estiverem a gostar do ambiente, irem ficando".