Artista e “writer” Finok faz “O Enterro do Galo” na Underdogs

A galeria da Rua Fernando Palha, em Lisboa, acolhe até 28 de Fevereiro uma misturada de Portugal e Brasil com crenças, balões de São João, máscaras e pipas

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Sara Pinheiro

Ainda o Carnaval não começou e já o artista brasileiro Finok faz “O Enterro do Galo” na galeria Underdogs, em Lisboa. É a primeira exposição a solo em Portugal do artista de 29 anos, que juntou na mesma sala máscaras, crenças, balões de São João e pipas (os portugueses papagaios de papel), elementos comuns a Portugal e ao Brasil.

Uma “misturada”, como diz o próprio Finok, “descendente de japonês com espanhol e nascido nos Estados Unidos”. Na exposição, saltam duas cores: vermelho e verde. A escolha não tem uma explicação complicada. São apenas cores com as quais gosta de trabalhar, explicou o próprio ao P3.

A exposição mostra que Portugal e o Brasil, apesar de serem “dois países muito diferentes, têm coisas muito próximas”. Um dos exemplos são os quatro grandes balões colocados no centro da sala, iguais aos que são lançados no Porto na noite de São João e no Brasil durante as festas Juninas. Mas do outro lado do Atlântico os balões “autonomizaram-se”, agora “são feitos muito grandes” e também são lançados noutras alturas do ano, tanto que se tornaram algo “proibido”. “Hoje em dia, quem faz e solta os balões provavelmente nem sabe que vieram de Portugal, da festa de São João”, comentou Finok.

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Exposição “O Enterro do Galo” está patente até 28 de Fevereiro DR

Também é possível que não saibam que a tradição da Malhação do Judas (no sábado de Aleluia, entre a sexta-feira Santa e o domingo de Páscoa, destroem-se bonecos que simbolizam figuras negativas do ano que passou) vem de O Enterro do Galo (na noite de quarta-feira de cinzas enterra-se um galo, animal que simboliza o mal do ano que passou). Finok sempre se interessou muito pela crença, “não ligada à religião, mas sim naquilo em que as pessoas acreditam”. O balão, por exemplo, “não está ligado à religião, mas as pessoas que o lançam acreditam em algo, têm um propósito para estarem a fazer isso”.

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As máscaras são um elemento recorrente nos trabalhos de Finok DR

Pipas, máscaras e um mural

Para a exposição, onde todos os trabalhos são originais, Finok criou também uma instalação de pipas, elemento “com uma simbologia muito forte” e que, no Brasil, “não é apenas colocado no céu”. “É uma guerra. Moem vidro, misturam com cola, passam na linha, depois um corta o outro. É uma brincadeira, mas pode ser sério, dependendo de quem brinca”, contou.

Outro elemento presente são as máscaras, algo que Finok usa muito nos seus trabalhos, “porque toda a gente tem as suas máscaras para lidar com situações diferentes”. Nessa instalação, vê-se a carinha com que enche o "O" do seu nome. No Brasil, “onde no início não havia tanto acesso ao que acontecia nos outros lugares, como a Europa ou os Estados Unidos, fazia-se mais desenho do que letras”. “Na minha geração, já sou de uma geração mais nova, comecei por fazer letras, mas sempre a ver o que os outros faziam. No O comecei a desenhar um rosto, que a partir daí comecei a desenvolver.”

Apesar de ter continuado a trabalhar os desenhos, na rua Finok ainda pinta letras, “a essência do que é o 'graffiti'”. Nas duas semanas que passou em Lisboa também pintou na rua e ofereceu um mural à cidade, que é parte integrante da exposição. A figura de uma boneca, acompanhada de um balão de São João e de um barco de Iemanjá (a deusa do Mar), foi pintada numa parede de um prédio de três andares nos Olivais e é visível da Segunda Circular.

Finok valoriza o convite que lhe foi feito pela Underdogs, para vir expor e pintar um mural, até porque em São Paulo, onde vive, “que tem vinte milhões de habitantes, não se vê um projecto destes”. “É muito importante fazer isso. Não estão a fazer só por eles, estão a fazer por Lisboa, é cultura”, disse. Do projecto faz também parte uma litografia, limitada a 85 unidades, que estará disponível no site e na loja da Underdogs (no Mercado da Ribeira).

“O Enterro do Galo” está patente até 28 de Fevereiro e tem entrada livre.

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