Dois zero um cinco. O que é que isto quer dizer?

Passaram doze meses em que apanhámos o metro, procurámos um lugar para estacionar ou um emprego, falhámos encontros, pagámos contas, beijámos, fizemos pequenas conquistas, cansámo-nos como metáforas, rimos e soltámos lágrimas que estavam no fundo dos olhos porque a vida dói.

Um ano em branco, como um álbum de fotografias ou uma página de Facebook em branco, é todo ele possibilidade. Possibilidade não significa que o novo ano seja a apoteótica abertura de "2001 - Uma Odisseia no Espaço", poderá ser um sublime tango argentino ou um sambinha do Vinicius. "A vida não é brincadeira, amigo/A vida é a arte do encontro/ Embora haja tanto desencontro pela vida".

Entre a literatura e a vida, entre o cinema e a vida (entre os propósitos de Ano Novo e a vida) há uma diferença: é que nos livros ou nos filmes, os personagens, os principais e os fugazes, entram nas páginas e saem delas obedecendo à mão do autor e de uma maneira ou outra fazem sentido na trama, pelo menos para o escritor ou realizador. Na vida uns entram quando não deviam, outros saem antes do tempo e reaparecem mais tarde outros nunca mais. Nem sequer há a opção de voltar ao capítulo anterior, fazer rewind ou levantar-se atirando com o saco das pipocas. Parte do segredo de viver é aceitar esta lógica. E recusar a ilusão se se querer tornar tudo o que não se é ou nunca foi, sem perder a capacidade de deslumbramento.

De qualquer modo resta o tomara-que-seja, resta o se deseja." E a esperança é uma mulher tão à mão, que é até ingratidão a gente não dar-lhe em cima".

Quase todos procuramos algo de selvagem que quebre a superfície envernizada da existência, as pequenas delicadezas que lhe emprestam sentido ou que nos compreendam por inteiro. Por isso 2015 formulo apenas três desejos, o dom de dar importância ao desimportante, dar significado ao insignificante e dias onde o coração não bata por hábito, mas por gozo.