Usar o Radio City Music Hall para rir

O novo especial de comédia de John Mulaney chama-se Kid Gorgeous, foi gravado na mítica sala nova-iorquina e está disponível no Netflix desde terça-feira.

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John Mulaney no Radio City Music Hall em Kid Gorgeous DR

Em 2014, John Mulaney teve a sua própria sitcom. Tinha como nome o seu apelido e mostrava-o a fazer, à moda de outra famosa série em moldes parecidos com o mesmo tipo de título, stand-up. Mas estava a anos-luz de Seinfeld. Era, e o próprio John Mulaney concordaria, terrível.

Os anos recentes do trabalho do cómico têm sido, porém, bem mais felizes. Mulaney ganhou nome a escrever para Saturday Night Live — os segmentos que escrevia para Bill Hader como Stefon, adicionando novas piadas em directo e fazendo o actor desfazer-se, são clássicos — e tem-se destacado de várias formas. Seja em parceria com Nick Kroll, tanto em Oh, Hello, em que ambos fazem de um certo tipo de idoso nova-iorquino que idolatra Alan Alda, quanto em Big Mouth, a série animada sobre a adolescência co-criada por Kroll a que Mulaney dá voz, e sozinho, com especiais como The Top Part, New in Town, The Comeback Kid e, agora, Kid Gorgeous, que chegou ao Netflix na última terça-feira, com mais a caminho nos próximos tempos.

O espectáculo foi gravado no Radio City Music Hall, em Nova Iorque, onde o cómico esgotou sete noites, e o cenário é usado em pleno. A introdução mostra-o a ser acompanhado por uma senhora pelos bastidores, até chegar a um elevador que o levará para o palco, em frente a um arco de luzes. E, além de Mulaney, com o seu risco ao lado e o seu fato e um ar geral que remete para o antigamente, há Jon Brion, o colaborador de Fiona Apple ou Aimee Mann que fez bandas sonoras para Paul Thomas Anderson, Charlie Kaufman ou Greta Gerwig, a tocar o órgão Wurlitzer da sala.

Em termos de material, o humor de Mulaney é ao mesmo tempo específico, bizarro e apelativo, com uma certa autodepreciação. Aqui, o humorista fala de, aos 35 anos, ainda não ser nem muito velho nem muito novo, o pai e a educação católica dele — incluindo uma conversa sobre sexo que envolve, por alguma razão, o compositor Leonard Bernstein —, a administração Trump, o seu casamento e outros tópicos. Há trechos que já tinham feito parte do monólogo do cómico quando este apresentou pela primeira vez Saturday Night Live há umas semanas, o que é perfeitamente compreensível.

Espera-se pelo que virá a seguir. No recente espectáculo Hilarity for Charity, de Seth Rogen, que também está no Netflix, e na apresentação dos Independent Spirit Awards deste ano, ao lado de Nick Kroll, Mulaney fez óptimas piadas sobre o momento cultural #MeToo e como este tem apanhado cómicos nas suas malha.

Maio no Netflix será ainda mês de novos especiais de Hari Kondabolu, o homem que fez Os Simpsons questionarem Apu, Ali Wong, que gravou o especial anterior, o clássico instantâneo Baby Cobra grávida de sete meses, a sempre única Tig Notaro no primeiro especial desde que One Mississippi, a sua série, chegou ao fim, e ainda um espectáculo conjunto das lendas cómicas Steve Martin e Martin Short, o actor que apareceu em Mulaney, a tal série terrível, mas apesar disso continua, aos 68 anos, a ser uma das pessoas mais hilariantes do mundo.

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