Num sonho pop (alternativo e vegetariano)

O Pop 101 não é um altar mas é um palco da celebração da cultura pop que quer tornar-se ponto de divulgação cultural. No Porto, este bar de tapas, e não só, tem muitas propostas, incluindo vegetarianas ou vegan

Fernando Veludo/Nfactos
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Chegamos durante a happy hour que é ritual desde que abre até às 20h30. Cá fora, um quadro de lousa diz-nos que bebidas estão em promoção, lá dentro, enquanto The Smiths nos dão música, outro relembra-nos — a saber, neste dia temos vinhos verde e rosé a 2€, Desperados a 3€ e Leffe a 4€.

Todos os dias varia a oferta nestas horas felizes, o que não varia é a fidelidade ao conceito de tapas neste Pop 101 que se reclama, claro, bar de tapas: por cada bebida pedida, tem-se direito a um “aperitivo”, chamemos-lhes assim — com cerveja normal batatas fritas, com cerveja artesanal nachos, com vinho patê, com espirituosas frutos secos, e há tostas-surpresa dependendo do que há de novo na casa.

O que não é nunca novidade é o vegetarianismo e a possibilidade de encontrar produtos vegan e sem glúten, tudo devidamente assinalado — é a linha diferenciadora, afirma Alexandra Teixeira: “Sei que não é comum, mas na minha perspectiva isso não exclui ninguém.”

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Se aqui à volta dominam chouriços e presuntos, o Pop 101 oferece tortilha, batatas bravas, tábuas de queijos, bruschettas várias, chamuças de Goa, hambúrguer vegetariano (ou vegan), alheira de espargos e cogumelos, por exemplo. “Este é um espaço integrador, é para todos.”

Para todos os que partilham da cultura pop, devemos avisar — mas quem lhe consegue escapar? Fora esta uma religião e aqui teríamos um dos seus altares. O Pop 101 não é um altar mas é um palco da sua celebração — da cultura pop. Logo à entrada deparamos, na parede em frente, com projecções de fotos de concertos, nas paredes laterais vemos cartazes de filmes de um lado e capas de vinis do outro, mais para trás há postais cinematográficos e bilhetes de teatro, há o “After the Party” segundo Andy Warhol, um canto de livros e outro de revistas — as musicais em destaque.

A música e o cinema

“Eu fui muito influenciada [pela cultura pop] na música, no cinema…”, explica Alexandra Teixeira, uma das metades da dupla que idealizou (e concretizou) este sonho pop, “e quando vou a um sítio gosto de a sentir, gosto que seja um espelho daquilo que nos marcou”. O “nós” é universal e o Pop 101 tem essa ambição identitária, ainda que o faça com coordenadas muito pessoais e bem visíveis no pequeno espaço, onde parte da decoração veio das estantes e paredes de Alexandra.

Porém, antes da decoração há a música, que depois transborda para esta não só nas capas de vinis à laia de quadros, como nos menus (as capas são de vinis, ainda que de natureza distinta) e nas bases dos copos (são singles). “Lembro-me, nos meus anos de formação, de ir a sítios pela música”, diz Alexandra. O Meu Mercedes é Maior que o Teu e o Batô dos anos de 1990 eram incontornáveis e este Pop 101 insere-se na mesma linhagem musical, alternativa e indie. “Faz parte do conceito do bar porque o que eu noto agora é a falta de espaços coerentes. Há demasiada mistura [musical].” Aqui, pelo contrário, a dieta é rigorosa e intensiva, percorrendo os caminhos da música desde a década de 1960 até hoje — não há saudosismo, faz questão de sublinhar Alexandra Teixeira, e, como exemplo, dá a compilação da última edição da Uncut, que traz o melhor de 2014, como Caribou ou War on Drugs, que já ouvimos no Pop 101.

“Muitas vezes, sinto, sobretudo lá fora, que a uma música, uma decoração nos liga de maneira especial a um sítio”, conta Alexandra, “e a nossa ideia foi essa”. Criar um sítio memorável, para portugueses e estrangeiros, a dois passos do centro da noite portuense, mas suficientemente resguardado para não estar no centro do turbilhão.

A rua ao lado dos Clérigos proporciona tudo isso — e estando rodeada de hostels é uma garantia de um público internacional. Nada a que seja alheia Alexandra, que viveu durante anos no estrangeiro e continua a viajar muito — nem o sócio, Daniel, espanhol a viver no Porto há uma década. Ambos têm uma carreira na universidade, na área da bioquímica, com doutoramentos e pós-doutoramento, investigação e docência. “Dizia que um dia gostava de ter um bar”, confessa Alexandra. Com a situação laboral “não muito fácil” e o Porto a ganhar uma “dinâmica interesse”, há um ano pensaram que “talvez fosse a altura certa”. E em Outubro abriu o Pop 101.

O que antes foi um armazém agora é uma sala com mesas altas e baixas, bancos e cadeiras, em madeira crua ou pintadas de cinzento — na parte de trás, um vão de escada proporciona um recanto acolhedor, com almofadas e pouffs; candeeiros de tamanhos (e cores) diferentes tornam o ambiente acolhedor. As paredes, de granito nu ou pintado de branco, são uma exposição do gosto da casa — e de Alexandra em particular.

“Tenho em minha casa muitos discos sem capa”, brinca — porque as capas estão aqui: Ziggy Stardust, The Cure, Radiohead, Velvet Underground… Música de um lado, cinema do outro: "Blow Up" e "Pulp Fiction", "Vertigo" e "Dr. Strangelove" — com o 007 Sean Connery a mirar-nos. Não são os preferidos, foram mais escolhidos para se integrarem no jogo de cores da casa: a sobriedade do espaço é compensada com os laranjas, vermelhos e amarelos e complementada com o preto e branco.

Com dois amantes das artes à frente, o Pop 101 quer dinamizar-se culturalmente, tornar-se ponto de divulgação cultural. Richard Zimmler já passou por aqui para uma sessão de autógrafos e um grupo de mediação já teve aqui sessões; no futuro, Alexandra gostaria de ter, por exemplo, exposições fotográficas, mesmo tendo de adaptar a decoração. Mas o que Alexandra (e Daniel) quer mesmo é que “as pessoas do Porto” se identifiquem com este espaço, como um espelho daquilo que gostam.

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