Antigamente era difícil ter uma noção espacial da ocupação do território. Os atlas pouco diziam sobre isso e as cartografias pormenorizadas estavam acessíveis só a técnicos e especialistas. Mas agora podemos ver isso com muita facilidade. Google earth, maps e muitas outras aplicações, mais ou menos técnicas, permitem agora ver como foi ocupado e é utilizado o solo em Portugal. Por outro lado, tendo-se generalizado o uso do avião e com tantas pessoas em viagem regularmente, basta uma observação pela janela do mesmo para constatar as enormes diferenças entre os vários países dos trajectos feitos. Na próxima vez que viajarem – coisa provável pois cada vez mais portugueses viajam de avião por muitas razões, incluindo a emigração – reparem no que surge lá em baixo.
Ao contrário do que acontece em Portugal (especialmente no litoral), em países europeus não muito distantes os edifícios tendem a existir em concentrações bem definidas, havendo clara definições sobre os limites entre espaço rural e o urbano. À medida que continuamos viagem para Norte e Leste, mais evidente fica esta diferença. Vemos aldeias, vilas e cidades bem delimitadas, com florestas e campos agrícolas ordenados. A dispersão urbana não é a regra. Isso revela um uso mais racional do solo, pois não devemos esquecer que o solo de qualidade é um recurso natural escasso não renovável.
Desconcentração e dispersão
Nós, por cá, permitimos a desconcentração e dispersão urbana nas novas zonas de expansão. Criámos zonas urbanas enormes, desperdiçando solo. Este modelo de cidades é altamente insustentável, pois desperdiça recursos e obriga a custos muito superiores com a construção e manutenção de infra-estruturas. Obriga a mais deslocações por transporte motorizado, que por sua vez consomem mais recursos (quase sempre não renováveis e importados) e geram mais impactes ambientais.
Não podemos esquecer que muitas das nossas infra-estruturas públicas foram construídas com financiamentos comunitários e que sendo insustentáveis vão obrigar a custos de manutenção altos, difíceis de suportar. Por falta de planeamento desperdiçamos de vários modos: construções dispersas que obrigam a infra-estruturas e serviços mais onerosos; ocupação com construção de terrenos mais aptos para outros fins; fragmentação das propriedades que condicionam o seu aproveitamento económico; aumento das distâncias e necessidades de transportes; ocupação de zonas de risco que obrigam a intervenções públicas especiais; etc.
Do céu fica bem aparente o caos que reina na nossa terra. Mas qual é a solução? Será que ainda conseguiremos agir de modo a tirarmos o melhor partido da nossa terra? Ou todo este desperdício pode obrigar-nos a ter de procurar outra? Espero que possamos dizer sim apenas à primeira. Acho, sinceramente, que ainda há tempo.
Seja como for, nas aplicações informáticas ou da janela do avião, a prova está lá (à vista de todos). Não há como escapar ao problema, pois até numa fuga ao assunto, lá de cima do céu, com o avião a afastar-se, fica bem evidente o caos que se construiu cá por baixo.