O atum vermelho do Pacífico ("Thunnus orientalis") e um tipo de camaleão gigante ("Kinyongia matschiei") estão entre as 22.413 espécies a nível mundial em risco de extinção, de acordo com a versão actualizada da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas. O documento foi hoje apresentado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) numa conferência sobre parques naturais em Sidney na Austrália.
A sobre-exploração humana de recursos marinhos e agrícolas está entre as causas apontadas pelos especialistas. De acordo com o documento, Portugal é o quarto país da Europa com mais espécies em risco de extinção, num total de 254 espécies ameaçadas, das 1223 analisadas. Espanha tem um total de 552 e está em primeiro lugar a nível europeu.
Moluscos e peixes estão entre os grupos de animais mais afetados em território nacional, com 76 e 54 espécies ameaçadas, respetivamente. "Os peixes e moluscos ocupam áreas de distribuição muito reduzidas em Portugal, são espécies endémicas que vivem em pequenos cursos de água e ribeiros, que afectados por uma descarga de desinfetante, por exemplo, são dizimados e não há recuperação possível", explica ao Ciência 2.0, Paulo Santos, presidente do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS). A nível mundial, os peixes e os anfíbios são os grupos taxonómicos com maior número de exemplares em perigo.
Os especialistas da IUCN referem, em comunicado, que há uma necessidade de fazer uma boa gestão das áreas protegidas. Das 76.199 espécies avaliadas, metade estão nestas áreas. "Apenas 25% são geridas de forma eficaz e isso é preocupante", alerta Jane Smart, responsável na instituição pela área da biodiversidade.
Paulo Santos denota preocupação com estes dados e alerta que nem "todos os ecossistemas estão cobertos por áreas protegidas". "Há muitas espécies perto da extinção nestas áreas. Estes espaços não são suficientes e apenas retardam o desaparecimento dos seres vivos", acrescenta.
Pouco financiamento
A maior espécie de "tesourinha" do mundo, um insecto cujas patas se assemelham a uma tesoura ("Labidura herculeana"), foi considerada extinta devido à destruição do seu habitat, adiciona o comunicado da instituição.
"O número de animais em perigo de extinção está sempre a aumentar. A situação não melhora porque há pouco financiamento para a biodiversidade", aponta o presidente do FAPAS, acrescentando que, no global, não é uma área de prioridade para os governos. "Não é só com decretos e palavras bonitas, é preciso financiar projectos de conservação e de protecção dos ecossistemas".
A versão actualizada desta lista revela ainda algumas espécies cuja situação melhorou, descendo no escalão atribuído. De recordar que os escalões vão de "Pouco Preocupante" a "Extinto". A rã venenosa pontilhada ("Andinobates dorisswansonae") é um desses animais. Passou de estado "criticamente ameaçado" para "vulnerável" devido a uma declaração na área protegida onde reside e que permitiu reduzir a perda de habitat.
Este ano a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas completa 50 anos de existência. O relatório apresentado anualmente é o mais completo no que diz respeito ao estado de conservação da biodiversidade.