As propinas destes futuros engenheiros vão ser pagas por empresas
Iniciativa de combate à "redução muito preocupante" do número de candidatos ao curso de Engenharia Civil da Universidade do Minho vai abranger os oito alunos que entraram este ano e garante ainda estágios remunerados para todos
Rui Silva e Fábio Gonçalves foram surpreendidos com a notícia no primeiro dia do ano lectivo: as propinas dos cinco anos do mestrado integrado em Engenharia Civil da Universidade do Minho, onde tinham conseguido entrar, iam ser pagas por uma empresa da área da construção — e, no fim do curso, teriam ainda a possibilidade de fazer um estágio remunerado nessa mesma empresa. A iniciativa, pensada para combater a “redução muito preocupante” do número de candidatos ao curso, não foi divulgada a tempo de chamar mais alunos para o mestrado integrado (entraram apenas oito este ano), mas a direcção do curso espera ver resultados já no próximo ano lectivo.
Foi para cumprir o sonho de uma vida que Rui Silva, 18 anos, se candidatou ao mestrado em Engenharia Civil. Fê-lo ainda sem saber da regalia que teria, mas a surpresa não podia ter sido melhor: “Não há ajuda melhor do que esta de estar ligado a uma empresa desde o início. Eles sabem melhor do que ninguém apoiar e direccionar o aluno e é uma ajuda enorme para mais tarde ingressar no mercado de trabalho”, disse ao P3 o jovem natural de Fafe.
A parceria foi proposta às empresas pela própria direcção do curso: “No ano passado tivemos 18 novos alunos e as empresas ficaram preocupadas porque perceberam que daqui a cinco anos não vão ter mão de obra”, contou o director do curso, Jorge Pais, que concorda com o alerta que empresas e Ordem dos Engenheiros lançaram recentemente — a redução da procura dos cursos pode fazer com que Portugal precise de importar engenheiros.
O problema não é exclusivo da Universidade do Minho, que apesar de só ter recebido oito novos alunos este ano foi a quarta com mais procura a nível nacional. Justificações? “As notícias sobre a redução do volume de negócios na construção em Portugal são constantes, o que está em linha com a redução em todos os sectores de actividade. Penso que os alunos se desinteressaram por isso”, arrisca o director do curso de Guimarães.
Desemprego ou emprego mal remunerado
No quinto e último ano do mestrado, Bruno Oliveira também aponta a crise como um dos principais factores para o desinteresse pela Engenharia Civil, que começou a ser mais notório nos últimos três anos. “Existe uma coisa que me desmotiva muito. Ver colegas meus irem a entrevistas de emprego onde lhes propõem receber 550 ou 600 euros por mês, num emprego às vezes fora da área de residência, onde têm de ter carro próprio, telemóvel, computador... ao final do mês vai tudo para o combustível e para as despesas correntes”, lamenta o também presidente da associação de estudantes.
Para os que agora chegam ao curso as perspectivas são, apesar de tudo, mais animadoras: “Os professores dizem-nos que daqui a cinco anos vai haver mais emprego e que o nosso pequeno grupo é um privilegiado. Somos poucos nas aulas, o rendimento é elevado, podemos vir a ser bons engenheiros”, acredita Rui Silva. Os sonhos de Fábio Gonçalves são diferentes: Engenharia Mecânica era a primeira opção, mas ficou fora por média insuficiente. Agora, com a promessa de um mestrado pago e um estágio remunerado garantido, vacila um pouco: “Leva-me a pensar um pouco, claro. Mas tenho um ano para decidir. Vou fazer este ano e depois decido. Mas se pudesse fazer mesmo o que gosto preferia”, contou.
No duelo vocação “versus” sentido prático, os dois caloiros são unânimes em valorizar a primeira: “Uma pessoa quando escolhe uma profissão tem de pensar que é para a vida. Podia optar por coisas que tivessem mais empregabilidade, mas se não gostasse não ia ter motivação e ia ser menos provável ser bem sucedido”, acredita Rui Silva. É uma postura que o finalista Bruno Oliveira aprecia: “No ano em que entrei, [em 2008], éramos 120 caloiros e tenho a certeza que uns 40% vinham porque os pais tinham um negócio na área ou qualquer coisa do género. Agora acho que a maioria está cá porque gosta mesmo.”
O programa de bolsas para os 15 candidatos com a melhor média de entrada (este ano serão só oito os beneficiários, o número de novos alunos) é uma “uma excelente iniciativa para chamar a atenção para o curso”, mas o formato do programa podia ser diferente, avalia Bruno Oliveira: “Posso ser suspeito a dizer isto mas acho que o mais ambicioso das 15 bolsas são os estágios. Se as empresas investissem nos 15 melhores alunos que saem dos cursos acho que seria mais interessante.”
Com um investimento total de 250 mil euros, as empresas vão assinar contratos com os alunos, que passam a estar ligados a essas construtoras. No fim do curso, se a empresa quiser ficar com o aluno como estagiário, garante-lhe um ordenado de “2,5 vezes o salário mínimo”, à volta dos 1250 euros. O projecto oferece ainda a possibilidade de os alunos estudarem em universidades do Brasil, Colômbia e Peru, obtendo um diploma duplo.