Marina e Gabriela planeiam viagens para o desconhecido

A Mistrip promove viagens mistério onde o cliente apenas decide o orçamento e a data da viagem. Para quem não gosta de surpresas há alternativas com mais "segurança"

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Marina Almeida Silva e Gabriela Soares gerem a Mistrip Enric Vives-Rubio

Não são uma agência de viagens — são uma “promotora de viagens mistério”. Este é o primeiro esclarecimento que Marina Almeida Silva e Gabriela Soares fazem questão de apresentar sempre que alguém lhes pergunta o que é a Mistrip: esqueçam o conceito de agência, aqui planeiam-se itinerários muito para além da reserva de transporte e de hotel e quem alinhar pode até embarcar numa viagem rumo ao desconhecido.

A ideia conquistou o júri de um concurso de empreendedorismo da Universidade Católica e provou, numa campanha de “crowdfunding”, ter pernas para andar. Mas os quatro jovens criadores acabaram por dispersar e a Mistrip estava “completamente estagnada” quando Marina Almeida Silva se cruzou com o projecto. “Disse que estava interessada em investir e através da única pessoa que não saiu acabei por conhecer a Gabriela”. A criadora inicial — que formava o trio com que a Mistrip se iniciou como empresa — acabou por abandonar também o projecto, que em Maio deste ano planeou as primeiras viagens.

A Mistrip quer promover o turismo (sobretudo em Portugal, já lá vamos) e proporcionar experiências inesquecíveis. E garante que o lado misterioso não exclui ninguém, mesmo os clientes menos aventureiros: “Tanto pode ser completamente à aventura como planeado.” Há três “níveis de mistério” possíveis: deixar todo o planeamento com a Mistrip (definindo apenas orçamento e datas), ter um dos elementos que vai participar na viagem como "cúmplice" no planeamento e deixar os outros às cegas ou decidir qual o destino da viagem e deixar os pormenores com as jovens da Mistrip.

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Projecto está a funcionar desde Maio Enric Vives-Rubio

Depois de identificar em que grupo se incluem — se o Mistrip Friends, Company, Love ou Unmarried —, o(s) cliente(s) preenche(m) online um questionário onde dizem a que nível de mistério querem aderir, datas da viagem e, se quiserem, outras perguntas sobre as pessoas que vão participar: se preferem campo, praia ou neve, se preferem hotéis, hostels ou campismo, o que mais valorizam quando viajam, etc.

Muitos interessados, também do estrangeiro

Feito este primeiro contacto, Marina e Gabriela — a primeira licenciada em Saúde Ambiental e a completar um doutoramento, a segunda formada em Turismo e Hotelaria — contactam o potencial cliente para o conhecer melhor e depois fazem-lhe chegar uma proposta. “Chegam-nos com clientes com variadíssimas vontades. Os que dizem que querem tudo mistério e que de repente querem saber mais qualquer coisa. Outros que logo “à priori” dizem que querem um determinado país. É importante dizerem sempre o que gostam e o que não gostam — por exemplo, se é alérgico ao sol não convém que se envie uma proposta de praia”, explica Marina Almeida Silva, de 26 anos. Na caixa de correio, Marina e Gabriela, 25 anos, recebem todo o tipo de desejos: alguns mais impossíveis do que outros, como um cliente que queria fazer uma semana de férias em Agosto, com tudo incluído, por 200 euros. “É impossível”, sorri Marina.

Sempre incluídas nas propostas vão os extras ao transporte e estadia: “Tem sempre algo mais. Pode ser um jantar de recepção, uma viagem de autocarro, um "slide", um momento romântico, uma massagem. Depende sempre do perfil do cliente” Outro ponto essencial: “Privilegiamos sempre Portugal, já temos algumas parcerias com hotéis e hostels. Já aconteceu o cliente pedir uma viagem para o estrangeiro mas estar indeciso e nós enviarmos duas propostas: uma lá fora e outra cá. É muito importante para nós incentivar o turismo nacional.”

O conceito desta promotora de viagens tem dois potenciais perfis de clientes, acredita Marina, que falou com o P3 por telefone: uma gama mais jovem que embarca na viagem “mais na loucura” e grupos de pessoas ou casais que querem viajar mas “não têm tempo para organizar” a expedição. Até agora, Mistrip organizou apenas cinco viagens, mas já elaborou mais de 100 propostas — muitas delas para clientes estrangeiros que, ao ver o site da empresa, nem se apercebem que é portuguesa.

Marina Almeida Silva acredita que esse pode ser um dos pontos de crescimento da Mistrip: “Um dos nossos objectivos é agarrar em estrangeiros e trazê-los para Portugal.” Para já, as jovens, que ainda não fazem deste negócio a sua ocupação principal, estão a optimizar o funcionamento do site e a melhorar o questionário ao mesmo tempo que batalham para serem reconhecidas exactamente por aquilo que são: “Não uma agência mas sim uma promotora de viagens mistério”, reforçam.

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