Gonçalo Cadilhe: um livro, uma exposição e um rapto
“Um Dia na Terra – Fotografias do Quotidiano do Planeta” é o nome de um livro e de uma exposição. Sabiam que Gonçalo Cadilhe foi raptado por uma corte galáctica?
O livro “Um Dia na Terra – Fotografias do Quotidiano do Planeta” (ao longo de 136 páginas) exibe mais de 200 fotografias recolhidas em mais de 50 países. Com estas fotografias, o que Gonçalo Cadilhe quis foi revelar a realidade dos locais por onde viajou e, ao mesmo tempo, partilhar as imagens com os seis fiéis leitores que o têm acompanhado em varios livros de viagens publicados nos últimos anos.
Na sua página de Facebook escreve que o fio condutor deste livro é “tudo o que diria a um alien”. Por que razão?
Um dos valores que eu acho mais importante para quem viaja e, portanto, um dos que cultivei e cresceu em mim em 20 anos de experiências, é o valor da relativização. O que quero dizer com isto é que quando não saímos da nossa cultura, do nosso país, temos a tentação de olhar para o que nos pertence como o centro do mundo. E ao viajar apercebemo-nos de que é tudo muito relativo. Aquilo que para nós são dogmas absolutos, são verdades sem discussão, saindo das nossas fronteiras passam a não ter valor nenhum ou muito pouco. Nesse sentido, a ideia do "alien" é a de explicar a alguém que está livre, liberto de preconceitos sobre o resto da humanidade, e claro que a figura do extraterrestre que não sabe nada do planeta chega aqui com um olhar virgem. Então eu, que tenho cultivado esse valor da relativização, poderia abordar o planeta de uma forma precisamente livre de preconceitos, de uma forma mais tolerante e é isso que eu acho que passa na exposição. Acho que é isso que o visitante vai colher: a mensagem de olharmos sempre para o que nós temos como absoluto, como dogmático com uma nova relativização.
Daí a escolha do nome do livro ser “Um dia na Terra – Fotografias do Quotidiano do Planeta”?
Exactamente. O tema é basicamente a minha descrição a uma corte galáctica que me raptou e que me pede para explicar como é o quotidiano do planeta. Então, a exposição é precisamente o documento em imagens que eu enviei para o espaço sideral a explicar o que acontece no dia-a-dia do nosso planeta e, por isso, a exposição [patente na Cooperativa Árvore, no Porto, de 26 de Setembro a 22 de Outubro] está dividida em três partes: manhã, tarde e noite.
As fotos são todas acompanhadas por uma descrição?
Sim, as fotos estão agrupadas segundo grandes temas. E, para além de vermos quatro ou cinco fotos e percebermos que pertencem ao tema que as introduziu, cada uma das fotos tem a indicação do lugar, país e data em que foram tiradas. E o livro reproduz exactamente o que vemos na sala.
Qual acha que será o "feedback" dos leitores e dos seus seguidores?
Eu penso que este trabalho está coerente, segue a pesquisa, as reflexões que tenho andado a fazer ao longo destes anos, que a minha vida de viajante profissional me tem permitido. Penso, portanto, que o público que me tem seguido e que, com carinho, me tem transmitido o prazer que o meu trabalho lhes dá, sairá muito satisfeito e com as expectativas gratificadas desta exposição. Penso, também, que quem não conhece o meu trabalho certamente receberá uma surpresa inesperada.
O que pretende registar fotograficamente quando viaja?
Quando eu tiro as fotografias o que eu pretendo é documentar aquilo que efectivamente acontece e que existe nestes países, ou seja, tento não recorrer a clichés de turismo; tento um olhar genuíno e, ao mesmo tempo, eficaz em termos de mensagem, em termos do impacto da imagem. Tento, no fundo, uma partilha. O que pretendo quando fotografo é partilhar com quem não pode viajar comigo, com quem fica do lado de cá, aquilo que é efectivamente é a realidade destes países.
O que mais gosta de fotografar?
Não tenho assim uma predilecção. Há alturas em que a luz puxa para a paisagem, há outros momentos em que são as pessoas. Ou seja, acho que muitas vezes é a qualidade da luz, a forma como ilumina os objectos que me faz decidir o que vou fotografar. Portanto, não há uma opção prévia. Até porque a opção prévia pressupõe que o fotografo tenha uma grande disponibilidade de tempo: esperar que o momento ideal aconteça e eu vejo o que naquele momento merece ser fotografado e é por aí que eu vou.
Consegue eleger quais os locais que mais tenha gostado de fotografar?
Há lugares que são efectivamente muito fotogénicos e de onde é muito fácil regressar com boas fotografias como, por exemplo, o Laos, a Birmânia [Myanmar], a Namíbia… são países que para mim tem sido extremamente gratificantes. A Itália também. Parece que há qualquer coisa na atmosfera, como a paisagem está organizada e como as pessoas lidam com o estrangeiro. Tudo isto faz com que certos destinos sejam mais gratificantes de fotografar.