Parece mentira, uma brincadeira até. Mas o Museu do Brinquedo, em Sintra, fechou portas no último dia do mês de Agosto. É verdade, um dos espaços culturais do país que mais despertava a imaginação, que mais alimentava a fantasia e que melhor estórias (e História) contava, encerrou. Agora, provavelmente, mais de 60 mil brinquedos vão ter de passar de uma grande montra, onde eram apreciados por pessoas de todas as idades, para um armazém, fechados em caixas de cartão.
Nunca pensei que uma mostra de tamanha significância real e simbólica pudesse acabar assim, sem deixar garantias de voltar. Os brinquedos fazem falta e cada geração tem um carinho especial por aqueles com que brincou. Lá, naquele museu, estavam todos reunidos. Percorrer aquele espaço era como fazer várias viagens no tempo, com paragens aqui e ali para recordar, com nostalgia, um determinado brinquedo ou brincadeira. A visita àquele espaço era personalizada, serviço prestado pelos próprios brinquedos, que resgatavam memórias diferentes a cada pessoa, doces lembranças que acabavam por ser rejuvenescidas. Como diz o adágio popular (com o qual nem sempre concordo): recordar é viver.
Está em causa uma colecção de brinquedos reunida ao longo de décadas, um espólio enorme de cultura, arte, engenho, história, ciência e criatividade, que encerra em si toda a magia e inocência das crianças e toda a sabedoria e vivência dos adultos: na forma de soldadinhos de chumbo, legos, outras construções, figuras de acção, bonecas e bonecos, piões, todo o tipo de modelismo, brinquedos feitos de madeira ou chapa... Enfim, tudo aquilo que nos couber na imaginação.
Um brinquedo é, por norma, um objecto de estima que, desde há vários séculos, se tem tornado cada vez mais acessível e universal. Pode ser grande ou pequeno, vulgar ou raro, frágil ou inquebrável e pode custar os olhos da cara ou ser feito apenas de cordas e paus. Uns passam de geração em geração, tornam-se objectos de culto, ou mesmo autênticas preciosidades procuradas por coleccionadores. Os brinquedos e os jogos têm um propósito essencialmente lúdico, mas servem também um fim pedagógico e didático. Fazem parte do desenvolvimento e educação das crianças, mantendo-as entretidas, curiosas e estimulando-lhes os sentidos.
Mas as crianças nem sempre valorizam os seus brinquedos; têm de aprender a fazê-lo. Já aos olhos de um adulto, um brinquedo pode conter um valor inestimável: não só monetário, mas principalmente afectivo. Daí que fosse tão bom existir um museu exclusivamente dedicado à preservação e exposição dos brinquedos.
A nova Lei das Fundações veio desequilibrar a sustentabilidade financeira do museu, impedindo a Câmara de Sintra de manter os apoios à fundação Arbués Moreira, proprietária da colecção. Para contrariar tantos desentendimentos institucionais, legais e burocráticos, espero que um novo município, um mecenas ou um filantropo (ainda os há?) possa resgatar a enorme colecção de brinquedos do esquecimento que se adivinha, como se tudo isto não tivesse passado de uma brincadeira de mau gosto.