The Future Library: estas vão ser as novidades editoriais de 2114

Todos os anos um escritor, escolhido segundo critérios não divulgados – sabe-se apenas que terá de ser considerado “proeminente” – , vai ser convidado a contribuir para uma colecção de manuscritos, que serão revelados apenas daqui a 100 anos

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Scott Wylie/Flickr

Como se sabe, há livros que com o tempo se tornaram clássicos mas na altura em que foram escritos ninguém daria, e ninguém deu, efectivamente, nem um chavo por eles. O Moby Dick, de Herman Melville, é um exemplo. Um mês após a sua publicação (1851), o autor escrevia em carta a Nathaniel Hawthorne: “Why, ever since Adam, who has got to the meaning of his great allegory — the world? Then we pigmies must be content to have our paper allegories but ill comprehended”. Ou Kafka, cujo reconhecimento pós-mortem muito deve ao seu editor, que, no momento certo, fez orelhas moucas a um pedido que hoje nos parece absurdo. Ou todos os outros autores que nem a vida nem a morte nos trouxe os seus nomes. Viveram na obscuridade, e não haverá nada que os faça sair de lá. Já passaram.

Mas e se esta obscuridade, tão cara a uns e tão trágica a outros, for, por assim dizer, provocada?

O projecto chama-se The Future Library e foi concebido pela artista escocesa Katie Paterson. Todos os anos um escritor, escolhido segundo critérios não divulgados – sabe-se apenas que terá de ser considerado “proeminente” – , vai ser convidado a contribuir para uma colecção de manuscritos, que serão revelados apenas daqui a 100 anos.

"Acho que isto pode ser uma liberdade incrível para alguns escritores – podem escrever o que quiserem”, dizia Katie Paterson ao The Guardian. “Desde um conto até um romance, em qualquer língua e contexto... A única coisa que pedimos é que o tema seja a imaginação e o tempo, o que pode ser explorado de várias formas. Acho que é importante que a escrita reflicta o presente, para que os futuros leitores, quando abrirem o livro, saibam como é que nós vivíamos.”

Durante o Verão começaram a ser plantadas as primeiras árvores. Hão-de ser 1000, a adensar uma dessas florestas na região de Nordmarka, a norte de Oslo (Noruega). E em 2114 vão ser cortadas para produzir o papel para imprimir os textos. "A natureza e o ambiente são centrais. [O projecto] envolve ecologia, a interligação das coisas, esses que vivem agora e os que virão. Questiona esta tendência de pensar a curto prazo, e de tomar decisões apenas em função disso.”

Margaret Atwood, vencedora do Man Booker Prize em 2000 com o romance The Blind Assassin (O Assassino Cego, edição Bertrand) foi a primeira escritora a ser escolhida. Sobre a notícia, divulgada no início do mês, disse em entrevista ao diário britânico: “É um prazer. Não tens de te preocupar com aquela parte em que, se a crítica for positiva o mérito é do editor e se for negativa a culpa é tua. E, seja como for, porque é que eu haveria de acreditar neles? [nos críticos]”

Quando estiver terminado, o texto de Margaret Atwood vai ser guardado numa das salas da Biblioteca Pública de Oslo, com novas instalações a partir de 2018, assim como os outros manuscritos que estão por ser escritos. A madeira revestida, a sala terá expostos os nomes dos autores e os títulos dos livros. Na mesma biblioteca será colocada uma impressora, para garantir que daqui a 100 anos ainda vai ser possível ler livros em papel.

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