Tratamos da obesidade de um sector particular da nossa geração. Os excessos alimentares de antigos dirigentes e potenciais políticos de carreira, profissionais da assessoria, da consultoria e do biscate ministerial. Os exemplos abundam.
Na minha cidade, o Porto, três ex-presidentes da Federação Académica (para evitar lembrar-me de outros) estão gordos. Visivelmente mais gordos. Um foi para ajudante do secretário de Estado da Juventude sem ter concluído o terceiro ano do curso (licenciatura) – vence 3.000 euros por mês. Outro é ajudante do secretário de Estado do Ensino Superior – vence o mesmo. O outro teve o azar de receber, por ajuste directo, 13.000 euros de uma empresa municipal da Câmara do Porto para "serviços de assessoria no âmbito do projecto ERASMUS’’. Têm no currículo, entre outras vantagens, o facto de terem sido militantes de um partido. Do mesmo.
Nos últimos dias tem-se falado muito dos estágios profissionais. Aqui, no P3, surgiram textos oportunos que alertam para o risco de confusão dos conceitos "emprego’" e ‘"formação’", bem como para a progressiva deterioração das condições que o Estado oferece aos jovens. É assunto do conhecimento público.
A verdade é que nada teria contra a dieta alimentar claramente excessiva dos gordos de Portugal, se dela não viesse a pobreza e a miséria dos demais.
Em Portugal, 30% dos jovens estão em risco de pobreza, mais de 30% são chamados nem-nem: nem estudo, nem emprego. Na minha área, a Arquitectura, foram atribuídas 12 bolsas de doutoramento para centenas de candidatos.
Têm-nos tentado explicar que não há dinheiro. Há, e para mim, é uma vergonha que parece não ter fim.