Os dois Antónios e o François Hollande português

Caso o PS ganhe as eleições legislativas, o António vencedor terá o choque com a realidade que Hollande teve. E será, então, o Hollande português

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Na Ucrânia, a Rússia defronta a NATO, os Estados Unidos e a União Europeia, e as sanções económicas já aplicadas podem transformar-se numa nova guerra em grande escala. No Médio Oriente, o fenomenalmente bem financiado Estado Islâmico tem um exército e controla poços de petróleo e uma quantidade impressionante de território, promovendo enorme carnificina enquanto se procura expandir. Um terrível surto do ébola devasta vários países africanos.

Depois das eleições para o Parlamento Europeu, a União Europeia seleccionou novo Presidente da Comissão Europeia, Presidente do Conselho Europeu e Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. Foram também seleccionados os candidatos a Comissários para a nova Comissão Europeia. A nova cúpula europeia terá de lidar com graves problemas internos e externos da União, numa fase decisiva da sua existência.

Em Portugal, o Tribunal Constitucional teve novas decisões com importante impacto jurídico, social e financeiro. Houve a possibilidade de finalmente começarmos um debate a sério sobre reforma da Segurança Social. Houve a possibilidade de fazer perguntas sobre a reforma do mapa judiciário que está agora a ser concretizada. Houve a oportunidade de discutir seriamente as propostas de reforma fiscal apresentadas por comissões nomeadas pelo Governo. E vêm aí as avaliações pós-PAEF.

O PS, entretanto, tem andado em “silly season”. Dois Antónios têm-se digladiado para definir quem será o François Hollande português, caso o PS ganhe as eleições legislativas. A campanha tem sido parca em substância e ideias e muito pródiga em lama, e nada tem dignificado quer o PS, quer a democracia portuguesa. Os debates entre os candidatos terão a duração de meros 35 minutos — sendo que António Costa propunha uns míseros 25.

O país tinha já tido a oportunidade de conhecer António José Seguro. Este revelou-se muito ágil a criar uma estratégia para se tentar manter Secretário-Geral, com a invenção destas primárias e seu “timing”. Os chavões e “slogans” de António José Seguro já são conhecidos, e o programa para as europeias é público, nada se tendo alterado desde então no posicionamento político de António José Seguro.

António Costa, por sua vez, parece chegado agora de 2004. Aproveitou a campanha para demonstrar que não entende o problema financeiro do Estado português, que faz promessas baseadas em na prática ignorar constrangimentos existentes muito difíceis de remover, e que não aprendeu rigorosamente nada com o que se passou nos últimos anos. Os seus apoiantes incluem dinossauros do partido e gente da área da “Cultura”, e, de forma particularmente preocupante, também João Galamba, o homem das “narrativas”, e Pedro Nuno Santos, o tal que acha que os nossos credores até tremem de pensar no nosso incumprimento.

Caso o PS ganhe as eleições legislativas, o António vencedor terá o choque com a realidade que Hollande teve. E será, então, o Hollande português.

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