Há meia dúzia de dias, vi quase de seguida dois filmes do Robin Williams, um antigo e um recente. Comecei pelo recente, "The Angriest Man in Brooklyn", uma daquelas comédias banais que se tornam boas só por terem o Robin Williams como protagonista; depois atirei-me ao drama "Despertares", baseado no extraordinário livro de Oliver Sacks. Deslumbrei-me, mais uma vez, com a sua capacidade de interpretação e a sua versatilidade em absorver papéis. Coincidência ou não, estava eu, dias depois, sentado numa sala de cinema a ver "O Homem Mais Procurado", protagonizado de forma brilhante pelo saudoso Phillip Seymour Hoffman, para depressa compreender as saudades que se hão-de ter de um desconhecido que já pereceu.
Devo ter acordado para o talento do Robin Williams quando ainda estava na pré-adolescência, com o "Flubber". (Sim, já tinha sido fã do "Aladino", mas só muito mais tarde vim a saber que era ele o responsável pela voz do Génio.) E esta manhã, sem mais nem quê, o rádio atreve-se a dizer-me que o Robin Williams se suicidou. A notícia em si não me surpreendeu, dado ser de conhecimento geral que o actor atravessava quase de forma constante estados depressivos. Mas não me apetecia perder assim, tão cedo, um artista que tanto admirava.
Robin Williams era o rei do improviso. Muitos saberão que o filme “Good Morning Vietnam” deve grande parte do seu sucesso às catadupas de discurso improvisado protagonizado por este homem. Mas há outras pérolas espalhadas por essa “web”. São esses restos que ficarão do Robin Williams para nós, meros mortais que se deixam arrebatar pelas capacidades genialmente artísticas de outro ser humano. Restos como o constante comediante que fez de si mesmo ao longo de quase duas horas no "Inside the Actors Studio", em 2001. Ou como daquelas vezes em que participou no "Whose Line Is It Anyway?".
Robin Williams era tão bom que transformou muitos filmes medianos em filmes extraordinários. Sem ele, aquelas longas-metragens não seriam tão memoráveis quanto o serão por toda a eternidade. A partir de hoje, todos sabemos que teremos um amargo de boca ao rever "O Clube dos Poetas Mortos", "O Bom Rebelde" ou mesmo "Hook". Talvez por isso nos tenhamos rido e chorado em igual medida com as suas interpretações.
É sempre estranha esta coisa de nos deixarmos arrebatar pela morte de um ídolo. Ou talvez não seja: uma celebridade entra-nos em casa com maior facilidade do que um outro desconhecido qualquer. Para todos nós, Robin Williams nunca deixará de ser um desconhecido vagamente familiar que nos deu horas e horas de regalo com fantasias inigualáveis. Teremos, indubitavelmente, muitas saudades.