Tiago tem tudo o que gosta no coração graças a um chip

Tem o tamanho de uma moeda de cinco cêntimos e reúne tudo aquilo de que Tiago Mesquita gosta, desde a família e a namorada até ao cão e o filme favorito. "Heart — The Art of Living" é o álbum de memórias dinâmico que o publicitário de 28 anos quer fazer

Quando Tiago Mesquita diz a alguém que essa pessoa está no seu coração, não está a ser metafórico ou simpático apenas por cortesia. Se gosta de alguém — ou de algum filme, música ou até momento — guarda-o no site que criou e, consequentemente, no chip que implantou, há cerca de dois meses, no peito. Mesmo na direcção do coração, numa espécie de álbum de vida sem limite de espaço que pode ir alimentando em qualquer altura. Gravou um vídeo aquando da implantação, num estúdio de tatuagens e modificações corporais, em Lisboa, e chamou ao projecto "Heart - The Art of Living".

A ideia de ter um chip subcutâneo começou a ganhar forma quando, há dois anos e meio, o publicitário de 28 anos foi operado de urgência, por duas vezes, ao coração. "A minha maneira de ver as coisas e interagir com a vida mudou um bocadinho", confessa ao P3, em conversa telefónica. O coração passou a ser um interesse, aliado ao facto de se considerar "uma pessoa muito agarrada à família e aos amigos, muito emotiva". "Aquilo que nós sentimos, as emoções, o amor, são questões que se processam no nosso cérebro e não propriamente no coração. E sempre tentei arranjar forma de tornar isso possível."

Pensou em tatuar um QR code (mas apercebeu-se que outras pessoas já o tinham feito) e foi quando conheceu os chips NFC (Near Field Communication) que se decidiu, por terem a "particularidade de podermos gravar tudo o que o quisermos". Inspirou-se no "biohacker" Tim Cannon, que em 2013 testou em si próprio um implante subcutâneo com sensores biométricos, e optou por uma solução menos visível e mais discreta, com uma dimensão semelhante à de uma moeda de cinco cêntimos e "a espessura de um papel", não corrosível.

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A implantação subcutânea teve lugar num estúdio de modificações corporais em Lisboa

O chip NFC foi comprado em Portugal, a uma empresa que normalmente os vende para "revistas ou pulseiras magnéticas para festivais", por cerca de oito euros, e modificado pelo estúdio por 120 euros. Foi revestido por silicone esterilizado e aprovado por médicos, que Tiago consultou para garantir que não teria problemas de rejeição ou infecções. "Este tipo de chip é passivo, é o próprio 'smartphone' que o lê, o chip não emite qualquer tipo de ondas", assegura o jovem. Basta encostar um 'smartphone' com tecnologia NFC ao peito para aceder directamente ao site, que também pode ser visitado normalmente, num "browser". Contudo, apenas Tiago pode eliminar ou introduzir novos conteúdos, novas memórias.

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Basta encostar um smartphone com tecnologia NFC ao peito de Tiago para aceder automaticamente a The Art of Leaving

O Menor Criativo do Mundo

Ouviu — e ainda ouve — muitas vezes dizerem que é "maluco", vê as pessoas contorcerem-se quando assistem ao vídeo. Percebe que não seja algo para todos fazerem, mas explica: "O meu dia-a-dia é resolver 'briefings' e acho que não existe maior 'briefing' do que aquele que temos na nossa vida". Tiago quer dedicar mais tempo ao seu projecto de vida: gravar todas as coisas de que gosta junto ao coração foi a solução que encontrou. "Não quero ganhar nada com isto", sublinha o director criativo da agência Felismina, para quem fazer um vídeo foi uma forma de "tentar influenciar as pessoas a fazerem coisas diferentes na sua vida". "No final da minha vida, quando tiver os meus filhos e a minha vida toda montada, as pessoas vão poder guardar a minha memória, tal como se fosse um álbum de fotografias mas com a vantagem de incluir também filmes, momentos, tudo o que eu quiser", resume.

A implantação aconteceu em Maio último e o site "Heart - The Art of Living" já valeu ao jovem a nomeação para os Prémios Novos, na categoria Criatividade, lado a lado com Miguel Durão (que "comeu" o último quadradinho do chocolate Milka) e Hugo Veiga (responsável pela campanha viral da Dove), o vencedor. O vídeo, diz, serve para mostrar que é tudo verdade. "Enquanto publicitário vejo muitos projectos fantasma (até mesmo pessoais)", justifica.

Esta não é, contudo, a primeira vez que uma ideia de Tiago é notícia. Há alguns meses, farto de enviar currículos sem resposta, decidiu enviar-se por correio. Pediu a ajuda a um amigo, que se fez passar por funcionário dos CTT, e meteu-se numa caixa de correio registado, endereçado a uma agência de publicidade. Acharam piada ao método incomum e por lá ficou a trabalhar, já depois de ter criado a sua "pseudo-marca", O Menor Criativo do Mundo. "A minha mãe fez-me baixinho mas sinto-me minimamente idiota para ter ideias."

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