Análise: Brumbies vs Chiefs

Os australianos venceram por 32-30 e mostraram ser em termos tácticos e técnicos incríveis. Os neozelandeses podem queixar-se da falta de comparência do “pack” durante a primeira parte

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Três andamentos

Os Brumbies começaram o jogo como se não houvesse amanhã (e existe outra forma de entrar num jogo destes?). Laurie Fisher, um dos dois treinadores em Camberra, deu uma entrevista na véspera do jogo em que referia que, apesar de não serem a equipa com os jogadores com mais poder físico, os Brumbies conseguem equivaler-se aos adversários no confronto pela forma como jogam. E durante os primeiros 40 minutos, os Brumbies superaram os Chiefs fisicamente, com uma intensidade incrível que permitiu elevada retenção e rápida reciclagem de bola. Aos 20 minutos, os Chiefs tinham 12 placagens falhadas, dois alinhamentos perdidos, posse de bola concedida no chão em pelo menos três ocasiões, e todas as penalidades do jogo, com excepção da primeira, que permitiu que Cruden abrisse o marcador. A agravar a penúria dos neozelandeses, a expulsão temporária de Nanai-Williams logo no início do encontro, que privou a equipa do centro durante 10 minutos, período em que os Brumbies marcaram 14 pontos.

Os primeiros 10 minutos da segunda parte inverteram a tendência, com os Chiefs a resolver as questões defensivas – ajustaram-se tacticamente e começaram a placar – e Cruden a dar um recital de ataque da linha da vantagem e decisão estratégica, fixando sempre a linha deslizante dos Brumbies, ora libertando para o apoio interior, ora chamando os apoios da primeira linha exterior, mas também colocando a bola nos planos atrasados para exploração dos espaços exteriores. As estruturas atacantes dos Chiefs começavam a funcionar em todo o seu esplendor, com o “pack” a assegurar a posse de bola e a disponibilizá-la muito mais cedo. A expulsão de Speight ajudou à festa, e durante os 10 minutos de castigo do ponta, os Chiefs marcaram 12 pontos e empataram o jogo.

Mas aos 60 minutos, e quando os Chiefs pareciam ter ganho decisivamente o ascendente, uma penalidade que Mowen optou por chutar para fora resultou em ensaio, a partir de “maul”. Com um ensaio convertido a separar as equipas, o jogo perdeu forma e ganhou emoção. Dois erros iguais de Messam, primeiro, e Pulu depois, que placados não largaram a bola e continuaram a progredir, ditaram quebras decisivas no ímpeto dos de Waikato. O ensaio de Anscombe, a três minutos do final, não foi convertido e o erro de Pulu no pontapé de recomeço ditou o fim da posse de bola dos Chiefs, e consequentemente do jogo.

Notas sobre o ataque

A transformação do jogo dos Brumbies é notável, depois de todo o sucesso obtido sob o espartilho táctico de Jake White. Começaram o ano dependentes do jogo territorial, mas sábado deram um recital de râguebi total. O jogo ao pé clínico de Nick White (muito melhor do que em Novembro, quando os seus pontapés para a caixa envergonharam os Wallabies) e monstruoso de Jess Mogg permitiram que os Brumbies jogassem râguebi onde ele deve ser jogado: no campo adversário. Mas actualmente, a ocupação territorial serve apenas o propósito de permitir que Toomua, ataque a linha com enorme velocidade, libertando constantemente Fardy, Mowen e Carter nos espaços livres entre defesas. O cinco da frente, móvel, assegura reciclagem de bola competente, e com uma estrutura que joga ora do "9", ora do "10", com um triângulo próximo do ponto de queda da bola que permite a criação rápida de dois planos de ataque, e com gente que tem o bom hábito de manter a bola viva (quer no papel de portador, quer no de apoio), os Brumbies têm um modelo de râguebi total com tácticas de jogo que servem cada momento. Falta-lhes um ou dois jogadores de classe mundial, mas em termos tácticos e técnicos são incríveis.

Os Chiefs, reconhecidamente brilhantes, podem queixar-se da falta de comparência do “pack” durante a primeira parte. Incapazes de reter a bola em momentos cruciais, sobreveio a sensação – redutora, mas julgo que real – de que faltou urgência ao oito da frente, sempre atrasados um segundo, que resultou em posições corporais elevadas na colisão. Sem bola, Cruden foi anónimo. Quando a teve, na segunda parte, fez o que melhor sabe: atacar e fixar a linha defensiva, tendo encontrado gente dentro e fora, para penetrar e finalizar. Como no segundo ensaio dos Chiefs, em que ataca o ombro exterior do primeiro defensor, liberta internamente para o segunda-linha Fitzgerald que, qual centro, entende que a concentração da segunda linha sobre a sua corrida penetrante libertou espaço exterior e com um passe longo encontra Nanai-Williams, que finaliza. Sublime, simplesmente sublime.

Notas sobre a defesa

Os Chiefs pensaram, e bem, sobre os pontos fortes dos Brumbies. Faltou execução. Na primeira parte, a defesa deslizante pecou pela subida tardia dos dois ou três homens exteriores. Speight é excelente, mas a subida tardia de Low, em posição demasiado aberta, permitiu que Speight batesse consecutivamente o seu adversário directo com linhas de corrida verticais interiores. Provavelmente, os Chiefs temiam que as costas do ponta aberto fossem exploradas ao pé, e não existe receita que cubra todos os potenciais perigos. Mas deixar demasiado espaço a Speight não pode ser boa ideia. Por outro lado, os Chiefs começaram com boa velocidade de linha defensiva, algo que foram perdendo até ficaram praticamente estáticos, também por força das placagens falhadas, que retiraram confiança na subida. O processo foi claramente corrigido na parte final da primeira metade, quando a reciclagem de bola australiana deixou de ser supersónica, permitindo a reorganização da linha e a reposição do equilíbrio defensivo característico dos Chiefs.

Interessante, também, a atenção especial que destinaram a Toomua, que no fim de semana anterior marcou três ensaios e quebrou a linha sempre que quis, contra os Western Force. O alinhamento é hoje a fase preferencial para ataque organizado, e Toomua é um “striker” de excelência. Os Chiefs resolveram a questão de forma inteligente, colocando o "9" a sair disparado para Toomua, assumindo o "7" a função de cobertura. Kerr-Balow foi, também neste aspecto, mais competente que Pulu.

Nos Brumbies, sobressaiu a excelente capacidade de decisão sobre a disputa defensiva do “ruck”, com os jogadores australianos a pressionarem de forma criteriosa a formação espontânea dos Chiefs, sem falta e sem desperdício, i.e. apenas quando se apresentava a oportunidade real de recuperação. E fizeram-no por duas ocasiões nos seus 22 metros defensivos, com recuperação de bola.

Destaques

Nick White – não tem o melhor passe do mundo. Basta a ver a quantidade de vezes que o receptor tem de ir buscar a bola aos joelhos ou às orelhas. Mas é muito bom em tudo o resto. Os hábitos de cobertura defensiva são inatacáveis, e foi ele quem recolheu, na dobra, o pontapé curto de Low, que fixou dois defensores e libertou Mogg na ponta, que encontra a linha de apoio do ponta Coleman, para um ensaio de antologia, o segundo da equipa. Melhorou bastante o seu jogo ao pé, conseguindo retirar pressão de Toomua nas situações defensivas e permitindo a reorganização da linha nos pontapés altos.

Toomua e Cruden – um abertura que jogue constantemente na cara da defesa e tenha a capacidade para identificar os espaços – exteriores ou interiores – criados, sem resumir a sua acção ao metro quadrado que o circunda vale o seu peso em ouro.

Henry Speight – o “offload” que protagonizou para Mogg é marca de qualidade. É decisivo no um para um, explosivo, sabe correr linhas no ombro interior e exterior do opositor, tem hábitos de continuidade, não tem revelado debilidades no jogo posicional defensivo. Será impressionante quando se juntar a Folau nos Wallabies. Sábado teve uma falha de placagem apenas, sobre Low, e na recuperação comete a falta que dita a sua expulsão temporária. Estas oscilações de temperamento terão um preço mais elevado nos jogos internacionais.

Christian Leal’iifano – as estatísticas demonstram que foi bem sucedido em três conversões e duas penalidades. Mas omitem dois falhanços inadmissíveis a este nível, que teriam resolvido o jogo bem antes do minuto 80. De resto, é um bom passador da bola mas não representa um real e constante perigo de penetração. Tem trabalhado este aspecto, que esteve na origem das maiores críticas às suas prestações contra os Lions, mas sem a eficácia do pontapé, é legítimo perguntar se não existirão melhores opções para o lugar.

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