Assumem-se como "fascistas da música" e "elitistas para quem tudo o que está abaixo de Swans é merda". São também notórios pela actividade nas redes sociais, algo entre o "troll" e o árbitro do gosto. Com estas duas características em mente, fica apenas ligeiramente mais fácil compreender o que é Gin Party Soundsystem.
A 28 de Junho passaram pelo Plano B, no Porto, naquela que foi a primeira vez em que todos os dez membros do colectivo estiveram presentes para o "set". Foi também a primeira vez que tiveram uma actuação em nome próprio que não fosse "um 'after' manhoso num bar refundido", nas palavras de Amílcar Rodrigues, um dos membros. Entre o público presente na sala Palco havia quem já estivesse avisado para o que vinha aí e uma larga maioria que claramente não sabia o que a esperava.
O "set" começa com uma selecção algo amolecida, entre diversas escolhas popularuchas de hip-hop e funk. Sendo uma actuação longa, o melhor estava reservado para mais tarde e para uma sala bem mais composta. É já depois das 3h que soa a abertura de "Romeu e Julieta" de Prokofiev — Francis Ford Coppola desejaria ter escolhido um trecho de sinfónica tão mais carregado de ameaça e tensão. Era o início do "set" propriamente dito: de Vengaboys a 2 Unlimited, sem esquecer hinos de Ace of Base ou Safri Duo.
O cariz trocista pode ou não ter passado despercebido à plateia — embora seja difícil encarar como sincero um comboio formado durante "(All Aboard) The Night Train". Com distância irónica ou não, a verdade é que a música surtiu o efeito para o qual foi formulada — e a ginástica rítmica foi geral.
Do Xispes ao Alive
Mas o que leva alguém a passar música ironicamente? Ao P3, Amílcar Rodrigues fala num princípio fundador que se prende com o tom dos "afters" de concertos e festivais, citando como exemplo o Semibreve, em Braga. "Achámos que não fazia sentido nenhum, depois de termos estado a assistir a uma electrónica cerebral, tentar reproduzir com música gravada o ambiente do festival." A actuação que fizeram depois desse festival foi uma dos primeiras, e mesmo entre quem já sabia ao que vinha houve uma expectável recepção mista. É também esse o efeito desejado, assume Amílcar. Ser um "choque" para quem se leva demasiado a sério.
O primeiro "set" de Gin Party Soundsystem teve lugar já a madrugada ia longa, às 8h de dia 27 de Julho de 2013, aquando da realização do Milhões de Festa. Não integrou a programação do festival, tendo tido lugar no Xispes, estabelecimento reconhecido pela sandes com o maior panado de Barcelos — alguns garantem que será também o maior do mundo. José Raposo, estudante de Direito e um dos braços do colectivo, descreve o cenário: "A assistir estavam dois cães, um 'frito' com uma tatuagem dos fuzileiros a pedir techno minimal e duas pessoas a comerem-se." Virem a passar som no Optimus Alive não parecia uma sequência lógica, confirma o engenheiro (e DJ, claro) João Ruivo. "Quando tocámos no Xispes a ambição secreta era que em 2015 pudéssemos estar a tocar na piscina do Milhões — claro que nem imaginávamos que em 2014 já estivéssemos num grande festival de Verão."
A presença no Alive resultou de um concurso aberto, em que, apesar de não obterem o voto popular, acabaram por estar entre os 15 projectos escolhidos pelo júri. É nesta altura que se ouve Rui Reininho dizer que gostava de ter os Gin Party Soundsystem a tocar no seu funeral (ver vídeo à esquerda). Amílcar admite que terem sido escolhidos para tocarem num grande festival de Verão os levou a pensar no colectivo noutros termos, mas apenas "na questão dos espaços" onde tocam. "Agora já sabemos que se calhar até faz sentido tocarmos em lugares como o Plano B." Aconteça o que acontecer, uma garantia: "O espírito fundador, da javardice, nunca será desvirtuado."
Ver para crer a 12 de Julho no Optimus Alive (Palco NOS Clubbing, 17h) e a 19 de Julho, no Porto, desta feita no Canhoto.