Filipe Quaresma, professor de violoncelo e membro da orquestra Barroca da Casa da Música, garantiu que não está mais nervoso do que o habitual, na véspera de um concerto. “Estou, isso sim, muito mais feliz do que o habitual”, confessou, sem qualquer hesitação. O instrumentista vai tocar, pela primeira vez na sala principal da Casa da Música, a sala Guilhermina Suggia, o violoncelo que pertenceu à mais célebre das intérpretes, a primeira mulher a levar o nome do Porto aos palcos do mundo.
Trata-se de um violoncelo assinado por Domenico Montagnana, o famoso luthier do século XVIII, e que construiu esta "obra de arte, um instrumento lindíssimo", diz Filipe Quaresma, ainda antes do compositor Carl Phillip Emanuel Bach ter assinado o Concerto para violoncelo e orquestra em Lá maior, em 1773. Quaresma tocará este concerto, na sala Suggia, com o violoncelo de Guilhermina. “É uma coincidência feliz. E um momento marcante", disse o instrumentista.
Esta será a segunda vez que Filipe toca no violoncelo de Guilhermina. A primeira foi em 2009, numa homenagem a Suggia organizada na Covilhã. "Fiquei fascinado com a beleza e a qualidade deste instrumento. A quantidade de timbres e de acordes que é possível arrancar deste instrumento é absolutamente incrível", recorda, acrescentando que ele também esteve nas mãos de Madalena Sá e Costa, outra intérprete portuense de reconhecidos méritos. Trata-se de um violoncelo muito espacial, não só porque pertenceu à artista, mas porque era, também, o seu preferido. No seu testamento, Guilhermina terá explicado que quando morresse, queria que deitassem o violoncelo a seu lado. O instrumento está sob tutela da Câmara do Porto, após uma complexa sucessão de doações, e foi cedida a Filipe Quaresma, a seu pedido, expressamente para este concerto. Uma cedência que Filipe Quaresma não se cansou de agradecer.
"É sem dúvida um momento de homenagem”, disse o instrumentista, sublinhando o facto de ir interpretar uma peça contemporânea à data em que o instrumento foi construído. Não era muito usual haver repertório solístico para violoncelo, e C.P.E. Bach inovou, ao escrever três concertos para este instrumento. “É um compositor cheio de surpresas harmónicas e com os timbres que é possível arrancar deste instrumento construído por Montagnana só me posso sentir muito, muito feliz”, insistiu.
O maestro titular da Orquestra Barroca da Casa da Música, Laurence Cummings, vai dirigir um concerto apostado em homenagear o Oriente que serve de tema a toda a programação de 2014 da Casa da Música. para além da peça de Bach, o programa passa também por Händel, Vivaldi, Corelli, Lully e Johann Joseph Fux. No vídeo de promoção do concerto, Cummings explica as razões destas escolhas.