É fascinante ver como há um conjunto de comentadores, cronistas ou meros “blogueiros” que são especialistas na opinião javarda. Na TV, na rádio, nos jornais ou na Internet, o que eles mais gostam de fazer é lançar umas atoardas para o ar para causar polémica, como se estivessem a dizer coisas muito inteligentes. Na prática, não têm interesse em provar um ponto de vista ou defender cabalmente uma qualquer ideia. O que eles gostam é de barulho. E do protagonismo que as muitas visualizações e os comentários acesos lhes proporcionam.
Enquanto os javalis se rebolam na lama, estes opinadores escarafuncham as ideias e poluem a inteligência com bocas avulsas, simplificações abusivas, preconceitos parvos e generalizações idiotas.
O certo é que não vale a pena fazer-lhes frente pois o que eles querem é mesmo isso: discussão estéril, violenta e continuada.
A forma como apresentam as suas ideias é tão básica que qualquer estudante do secundário, com um mínimo de formação em filosofia, saberia identificar os diversos vícios de argumentação ou mesmo desmascarar a total falta de ligação com a realidade (não apresentam provas para o que assumem como factos) dessas primárias opiniões.
Numa célebre querela entre Marinho e Pinto e Manuel António Pina (com respostas e contra-respostas através de crónicas de jornais), o poeta acabou por escrever uma frase fascinante: “Tenho um princípio de sobrevivência na estrada que consiste em dar sempre prioridade a um camião destravado (ainda por cima, este vê-se bem que faltou a alguma inspecção). Meto, pois, travões e ele que passe.” No fundo, é a mesma ideia que Bernard Shaw já tinha imortalizado quando disse: “Nunca lutes com um porco. Primeiro, porque ficas sempre sujo e, segundo, porque o porco gosta”.
Aos javardos da opinião deve dar-se o mesmo tratamento. Eles que insultem quem eles quiserem, que rebaixem os pobres, que desconsiderem os iletrados ou os doutorados ou que, de uma forma geral, mostrem desprezo por todos aqueles que não pensam como eles ou que não pertencem à sua classe (eles que já viram a luz da sabedoria e ainda nos fazem o favor de a chapar nas nossas caras). Se os deixarmos a falar sozinhos, ficarão reduzidos à sua insignificância.
Nada de confusões, este meu texto não se destina a esses opinadores javardos (não me acusem, por isso, de me contradizer por eles serem o tema desta crónica). Destina-se, antes, a todos os que não o são e que podem, talvez, aderir a esta minha estratégia. Da próxima vez que sentirem a aproximação de tal espécime, experimentem olhar para o outro lado, tapar os ouvidos, mudar de canal ou fechar a janela do “browser”. Tenho poucas dúvidas de que, se todos agirmos assim, a opinião javarda pode bem vir a ficar em vias de extinção.