Olá Mohammed,
Sei que é estúpido escrever-te por aqui, mas não tenho outra forma de te contactar desde que desactivaste a tua página do facebook por receberes tantas ameaças de violência e de morte. Escrevo aqui também por não saber o que mais fazer para te ajudar. Talvez estejas mais protegido se mais pessoas souberem a tua história e souberem quem são os culpados se algo te acontecer.
Conheci-te pelo Facebook há poucos anos por ambos gostarmos de Israel — o teu país. Percebi que, apesar de viveres na cidade árabe de Nazaré e teres tantos familiares e amigos árabes, adoras Israel e adoras ser israelita, e afirmas isso bem alto. Explicaste que vários árabes te ensinaram a odiar Israel e os judeus, mas que foste investigar por ti próprio e conheceste inúmeras pessoas judias que não tinham qualquer ódio contra ti, mas abertura e generosidade. Dizes que tens sorte por viveres num país democrático, tolerante e desenvolvido no Médio Oriente, um país estável e livre da opressão e dos banhos de sangue que vês nos países árabes à tua volta. Foste estudar para uma escola judaica e falas hebraico fluentemente, para além do árabe e do inglês. Não há quase dia que passe sem que partilhes uma foto na escola com os teus colegas judeus ou uma saída com os teus amigos árabes.
As coisas começaram a ficar complicadas quando alguns jornalistas israelitas foram buscar fotos e vídeos ao teu mural sem a tua autorização e os mostraram na televisão. Foi a primeira vez que recebeste ameaças e desactivaste a tua página. Tudo porque, para além de seres um muçulmano que defende Israel, és também primo de uma das deputadas árabes israelitas mais famosas do país — Hanin Zoabi — famosa pelos discursos virulentamente anti-israelitas e por defender e justificar os actos dos terroristas que regularmente atacam Israel e os seus habitantes. O apetite da imprensa por um bom confronto familiar fizeram o resto do trabalho, e rapidamente a tua prima deputada te insultou nos "media" enquanto muitos outros árabes diziam sobre ti coisas muito piores e mais graves.
Mas tu não és como essas pessoas e, quando na última sexta-feira se soube que três estudantes israelitas tinham sido raptados por terroristas palestinianos, tu foste o primeiro a condenar o rapto, enquanto a tua prima defendia publicamente os terroristas. Colocaste um vídeo na Internet em hebraico, árabe e inglês a exigir a libertação imediata dos reféns e a dizer ao primeiro-ministro de Israel para parar de colaborar com o governo palestiniano, que dizias serem os maiores terroristas de todos. Disseste que eles não distinguem entre israelitas árabes e judeus e que, se desta vez foram aqueles três rapazes a ser sequestrados, da próxima podes ser tu. E foi isso que quase aconteceu a seguir.
A tua página voltou a deixar de estar online. As notícias dizem que três homens da tua família foram presos porque te ameaçaram. Iriam levar-te para Jenin — uma cidade controlada pelo governo palestiniano — e aí iriam fazer-te mal. Desde essa altura que as autoridades te puseram a viver sob protecção policial, mesmo a tua escola está sob vigilância. Alguém publicou uma mensagem supostamente tua a dizer que decidiste passar a ser mais discreto, embora vás continuar a defender o teu país e a paz entre judeus e árabes.
Estou preocupado contigo. Não sei que mais fazer, por isso escrevi este texto.
Espero que não te façam mal, mas que um dia sejas o deputado da família. Espero que não te matem, mas que um dia sejas Presidente de Israel.
O mundo precisa muito de pessoas como tu. Fica seguro. Até breve, Mohammed.