“50 kids/50 cameras” ou como as crianças vêem uma favela
Casal que se dedica a projectos fotográficos de cariz social vai mostrar como é que crianças de favelas de Fortaleza vêem o mundo. Em poucos dias, campanha de crowdfunding conseguiu mais do triplo do dinheiro pedido
Francis e Stephanie Lane querem saber como é que crianças que vivem nas favelas de Fortaleza, no Brasil, vêem o mundo, através de uma máquina fotográfica descartável. Isto a propósito do Campeonato Mundial de Futebol e de toda a atenção que o país tem recebido — e vai continuar a receber — em 2014. Para tal idealizaram o projecto “50 Kids/50 Cameras” e criaram uma campanha de crowdfunding. Em poucos dias conseguiram o valor que pretendiam e o Silent Tapes, projecto fotográfico de ambos seguido por milhares de pessoas, vai expandir-se à América do Sul.
Um workshop de fotografia com a duração de cinco semanas que resultará num livro, em exposições (em Fortaleza e em Nova Iorque) e num documentário é o que este casal de fotógrafos quer levar a cabo. A ideia de mostrar a cidade de Fortaleza começou na Tailândia. Em 2013, Francis e Stephanie passaram uma temporada em Klong Toei, nos subúrbios de Banguecoque, como voluntários de uma organização humanitária. Com o lucro do trabalho fotográfico de ambos, puderam proporcionar cuidadoss básicos diários a crianças deixadas sozinhas enquanto os pais vão trabalhar.
Em 2014, o inglês e a norte-americana querem aproveitar a visibilidade que a “Copa” está a dar ao Brasil. A escolha de Fortaleza não foi aleatória: a cidade é conhecida “pela sua reputação de capital do turismo sexual e da exploração sexual de crianças”, dizem na apresentação do “50 kids/50 cameras”. “Até agora, estima-se que 400 milhões de dólares tenham sido gastos na revitalização de áreas de turismo só em Fortaleza e que 200 mil pessoas tenham disso deslocalizadas por todo o país”, continuam.
“Através do nosso trabalho e de parceiros locais, queremos fornecer qualificação pelas artes e organizar programas que beneficiem estas crianças”, descreve Stephanie, ao P3, por e-mail. O objectivo de todos os projectos do Silent Tapes é que as actividades tenham “um impacto positivo no futuro”. “Queremos ensinar estas crianças a usarem a sua voz e a transformar as emoções e ideias em fotografias que reflictam uma perspectiva orgânica, na sua forma mais pura”, resume a norte-americana de origem brasileira que se vai estrear naquele país. O resultado do workshop vai poder ser visto num livro e em exposições. Os lucros revertem, “directamente, para as crianças e para outras famílias da comunidade”, assegura.
No Kickstarter, receberam mais do triplo (20 mil dólares) daquilo que pediram (oito mil dólares), sucesso que atribuem, conta Stephanie, ao apoio que a comunidade do Instagram lhes deu. “Um dos nossos amigos, Manuel Pita (@sejkko) mencionou o projecto na legenda de uma fotografia nossa e, de repente, dezenas de pessoas começaram a seguir-nos. Antes que déssemos conta, o projecto tinha-se tornado viral no Instagram.”
Houve, então, uma mudança de planos. Graças aos fundos extra que conseguiram angariar, o casal pôde também começar a preparar uma narrativa para um documentário, a ser filmado durante a estadia de ambos em Fortaleza. E porque as pessoas continuam a querer contribuir, mesmo depois de a campanha no Kickstarter ter terminado, foi criada uma página onde os interessados o podem fazer.