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Somos muitos eruditos para poucas cadeiras

Não estaremos, nós os que dentro de poucos dias irão segurar diplomas de punho em riste, demasiado confiantes que as nossas capacidades recém-adquiridas sejam suficientes para expulsar os que cá andam e que têm de nos ceder o lugar?

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Desmond Boylan/Reuters

Chega agora aquela altura – pelo menos para alguns de nós, universitários —, em que se inicia o final do curso. E é toda uma agonia e um desespero, porque esta fase da nossa vida está a acabar e vamos inciar-nos numa nova. Mas esta fase nova não nos é assim tão desconhecida. Aliás, ouvimos falar dela, todos os dias, incansavelmente nos noticiários, nos jornais, na boca-do-povo... E estamos sem qualquer preparação mental para a receber.

Ainda agora saímos do berço dos papás, do conforto e já nos empurram para o mundo dos matulões, dos grandes, dos "bullies". A maioria de nós não está habituada a este mundo, porque ainda dormimos com os lençóis lavados pela mamã, sorvemos a sopa da avó ou ainda usamos as muletas que o dinheiro dos pais nos permite.

Eu, há qualquer coisa como três anos, já, estou habituada a fazer parte desta classe trabalhadora. Concilio isso com os estudos, como mais ou menos me permite e sei o que custa ganhar para pagar casa, alimentação, transportes e, ainda, ajudar com as propinas. Estou emancipada da mama parental. O potezinho de mel dos papás já lá vai e sei que esta “nova” fase da minha vida é uma continuação, embora mais dura, do que até agora tenho vivido. Mas, será que é mesmo assim? Não saímos nós pouco preparados as instituições para este mundo de loucos? Não estaremos, nós os que dentro de poucos dias irão segurar diplomas de punho em riste, demasiado confiantes que as nossas capacidades recém-adquiridas sejam suficientes para expulsar os que cá andam e que têm de nos ceder o lugar?

É que todos nós, que saímos agora do ensino, queremos ingressar na área que cursámos. E é normal que assim seja. Mas para haver sucedidos, têm de existir os que tropeçam e ficam a fazer “o que tem de ser feito”. Eu sou caixa de supermercado e não tenho quaisquer problemas com isso: ainda me paga as contas. Claro que, como quase-licenciada, não vou querer fazer isto para o resto da vida. Mas, então, para quem deixamos o fardo? É que, hoje em dia, somos quase todos licenciados. E somos quase todos desempregados. Mas mesmo assim, insistimos em não querer passar artigos por um scanner, porque sabemos que merecemos mais. Aliás, pagámos por isso (ou alguém pagou).

O que em suma me preocupa, é a incerteza do que é e do que será, daqui para a frente. Aos vinte e dois, tenho emprego, sou efetiva e isso é ter mais do que a maioria da minha idade e formação escolar tem. Mas querer mais torna-me egoísta? Talvez. Porque mais queremos todos. E só há para alguns.

É como diz Jamie Cullum, na sua música "Twenty-Something", “After years of expensive education / A car full of books and anticipation / I'm an expert on Shakespeare and that's a hell of a lot / But the world don't need scholars as much as I thought”. Qualquer coisa pegamos nas mochilas, enchemos do essencial e partimos à descoberta. Cullum também diz que a resposta pode estar no amor. E, se calhar, está. Ou não, logo se vê. Sem pressas. Ainda somos "twentysomethings".

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