Nos últimos meses, e com uma nova geração de consolas já no mercado, a tendência de renovar certos franchises tem sido muito declarada. Por um lado existe a vontade de reabilitar certas marcas, retirando-lhe um número à frente do título e, desta forma, possibilitar a assimilação de um reboot de um modo vistoso, tal como “Tomb Raider” há um ano. Por outro, como acontece com a PlayStation, a percepção de que novos consumidores irão aderir à PlayStation 4 e pouco saberão de franchises do passado. E é muito mais fácil para o consumidor não informado aderir a séries como “Killzone” (“Killzone Shadow Fall”) ou “InFamous” (“InFamous: Second Son”) sem um número à frente: no seu subconsciente vai sentir que não vai estar ou não vai precisar de andar atrás da história.
“Thief” (PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One e PC) é o título mais recente no mercado a passar por este processo. E existem várias razões para que a série passe por um reboot. O franchise foi criado em finais dos anos noventa, sendo o PC a sua base primordial (só o terceiro título, “Deadly Shadows”, em 2004, é que também surgiu na Xbox), pelas mãos da Eidos, onde, então, trabalhava Ken Levine, antes de fundar a Irrational Games e dar ao mundo jogos como “System Shock 2” ou “Bioshock”.
O primeiro jogo, “Thief: The Dark Project”, foi basilar para instituir e dinamizar uma série de mecânicas nos jogos de “stealth” a que hoje estamos mais do que habituados. A perspectiva na primeira pessoa, a forma como o protagonista se movimenta pela cidade e, acima disso tudo, a importância em ser discreto, não fazer barulho e não ser descoberto. O silêncio dos passos de Garrett é mais importante do que qualquer arma. É preguiçoso dizer que era um jogo à frente do seu tempo, só porque mais tarde franchises como “Hitman”, “Splinter Cell”, “Assassin’s Creed” e “Dishonored” seguiram-lhe as pisadas. Foi, sim, inovador e importante para revelar uma série de mecânicas possíveis nos videojogos. Facto que, provavelmente, a geração de jogadores que absorveu alguns dos franchises acima referidos nunca se deu conta.
O renascimento de “Thief” justifica-se pela sua ausência de dez anos e por tudo o que aconteceu desde então: jogos inspirados em “Thief” tornaram-se imensamente populares. E, claro, como a série original teve pouca expressão nas consolas, nada melhor do que reintroduzir Garrett desta forma em quase todas as plataformas. O trabalho de criar uma nova cidade e uma nova história para o protagonista esteve nas mãos da Eidos Montreal (responsável pelo excelente “Deus Ex”).
O cenário é simples, Garrett é, obviamente, um ladrão que se ocupa a roubar artefactos de valor, cumprindo trabalhos que lhe são pedidos. Neste “Thief” Garrett tem de tentar perceber o que se passa consigo e que o anda a assolar a sua cidade (apresentada somente como The City). Tudo tem a ver com um ritual que acontece no prólogo do jogo e que é a chave do mistério de uma doença estranhíssima que anda a devastar a cidade e dos novos poderes de Garrett, cujo principal destaque vai para uma habilidade que permite investigar o cenário à sua volta: em harmonia com o “Detective Mode” da série “Arkham” dos jogos do Batman.
“Thief” não soa tão fresco quanto desejado, em parte porque muitas das mecânicas ficaram saturadas nos dez anos em que a série esteve ausente. Contudo, o prazer de roubar casas de estranhos, andar pelos telhados em silêncio de uma cidade a industrializar-se em modo “steampunk” e utilizar diferentes flechas para alterar o cenário e circundar os inimigos sem ser detectado é impagável. Alguns aspectos podem ser recorrentes noutros videojogos, mas tudo junto e fazê-lo com Garrett continua a ser especial.