"É muito importante continuar a afirmar: nós temos uma arquitectura de excelência". Inês Lobo está no ramo da arquitectura há mais de 20 anos. Em 2002, estabeleceu-se em atelier próprio, e foi a partir daí que conversou com o P3, após ser distinguida entre uma lista de 21 arquitectas de 15 países com o prémio arcVision, um prémio internacional atribuído pela multinacional italiana Italcementi Group.
A surpresa quanto à distinção do prémio arcVision ainda é muita. "Foi completamente inesperado. Na altura nem sequer dei muita atenção. Quando recebi a chamada a dizer que eu tinha ganho foi uma surpresa incrível. É uma coisa que vem lá de longe, de pessoas que eu não conheço e que falam da obra que nós produzimos durante não sei quantos anos... É uma sensação bastante estranha e comovente."
Arquitectura de excelência
A arquitecta portuguesa (licenciada na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa) candidatou-se ao prémio arcVision com os projectos da Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra, o Complexo de Artes e Arquitectura da Universidade de Évora e o Edifício da Sede Ferreira Construções, todos em Portugal. Ainda que o mercado de trabalho não augure boas coisas, não pensa sequer na hipótese de deixar o país.
E insiste: "É muito importante continuar a afirmar: nós temos uma arquitectura de excelência. Não há por aí muitos países com dois prémios Pritzker, com tanta arquitectura de tão boa qualidade... Isto tem que mudar, temos que continuar a trabalhar e acho que devemos continuar a lutar e a trabalhar em Portugal. Tenho pouco trabalho em Portugal, mas quero continuar a trabalhar aqui, acima de tudo. Contribuir para mudar aquilo que se vai passando, continuar a contribuir para fazer tudo o que ainda há para fazer, continuar sempre a insistir. É evidente que nós estamos disponíveis para trabalhar em qualquer lugar no mundo. Isso que os arquitectos sempre fizeram, mas isso não implica deixar Portugal."
Apesar de tudo, Inês Lobo mostra-se alarmada com o panorama da arquitectura em Portugal. Na Universidade Autónoma de Lisboa onde dá aulas, tem turmas inteiras e anos consecutivos a emigrar. Os amigos do tempo de faculdade estão a ir embora também. "É arrepiante. Mais arrepiante ainda é ter pessoas da minha geração a ter de emigrar para procurar trabalho. E é ainda mais impressionante ter de transportar famílias inteiras para o outro lado do mundo."
O prémio arcVision existe há dois anos e Inês foi distinguida por júris como Martha Thorne, directora do prémio Pritzker, e Kazuyo Sejima, vencedora do Prémio Pritzker em 2010, que consideraram a arquitecta portuguesa "versátil", reconhecendo-lhe "capacidade de trabalhar em diferentes escalas" e de ter "soluções criativas para problemas arquitectónicos complexos."
Juntamente com o galardão da multinacional italiana, a arquitecta vai receber ainda prémios que consistem numa quantia de 50 mil euros e num estágio de duas semanas no centro de investigação da Italcementi Group, em Bergamo.