João Tordo (n.Lisboa, 1975) apresentou “Biografia Involuntária dos Amantes”, o seu primeiro romance com a chancela Alfaguara, quinta-feira, em Lisboa. Depois de uma breve introdução de Clara Capitão, editora da Alfaguara, João Tordo deu a conhecer algumas características da obra.
Segundo o autor, a mudança de editora é simultânea com a ruptura formal com os seus livros anteriores. Neste seu sétimo romance, há a procura de inovação tanto na estrutura como na adopção da voz(es) narrativa(s). A narração está entregue, pela primeira vez nos seus livros, também a uma voz feminina. O autor sentiu necessidade de se pôr à prova, saindo de um registo em que se sentia demasiado confortável.
O enredo situa-se “na fronteira entre a realidade e a irrealidade”, no qual personagens fictícias, mas baseadas em pessoas reais (o poeta Saldaña Paris, por exemplo), coabitam com criações que transitam de livros anteriores. Esta passagem de personagens de umas histórias para outras acontece porque “as personagens têm vinda própria”. “Mesmo quando tu rompes, levas bagagem contigo”, afirmou.
A intertextualidade não se limita ao interior da sua própria criação ficcional. Dylan Thomas (1914-1953) é uma presença muito importante em “Biografia Involuntária dos Amantes”. A prosa remete, por vezes e de forma implícita, para os versos do poeta do País de Gales.
“Biografia involuntária dos amantes” é uma interrogação sobre a possibilidade/impossibilidade de reconstrução de um novo caminho depois de um golpe emocional profundo e limitador de perspectivas de futuro. Essa “busca por uma vida nova” é essencial na história de Teresa e Saldaña Paris, personagens deste romance.
A melancolia do poeta Saldaña Paris começa a ser desvendada pelo narrador, um professor universitário conformado e passivo, após os dois terem atropelado e matado um javali.
Será na esquadra da polícia que o poeta mexicano começará a contar ao seu improvável amigo uma história surpreendente e capaz de provocar mudanças na própria vida do professor universitário.
“Nesta dupla tentativa de salvação (a do amigo, mas também a própria), o professor irá procurar encontrar “as coisas certas” que ainda nos definem como humanos e resgatar a possibilidade de um futuro com dias felizes”.
Após romances como “As Três Vidas” (Prémio José Saramago), “O Bom Inverno” (finalista do Prémio Melhor Livro de Ficção Narrativa da Sociedade Portuguesa de Autores), ou “Anatomia dos Mártires” (Finalista do Prémio Fernando Namora), João Tordo arrisca ao iniciar uma nova fase da sua escrita. A mudança da Leya para a Alfaguara marca, também, uma nova etapa no seu percurso como escritor. “Biografia Involuntária dos Amantes” chega às livrarias dia 2 de Abril.