O XV de Portugal cumpriu, em Bruxelas, a sua obrigação: ganhou à Bélgica e não lhe permitiu qualquer "ponto de bónus". Assim, conseguida uma diferença de cinco pontos (a vantagem será portuguesa, em caso de empate, por melhores resultados entre ambos - duas vitórias) sobre os belgas, a selecção nacional afastou o fantasma da descida e pode ainda - se a sorte dos deuses da ovalândia o proporcionar - sonhar com a hipótese de participação no Mundial 2015 em Inglaterra.
E o que é preciso para isso?
Uma necessidade absoluta: por um lado, Portugal tem que ganhar - contra a Rússia e Espanha - os dois jogos que lhe faltam; por outro, que a Rússia perca os também dois jogos que lhe faltam - contra Portugal e Bélgica.
Com as duas vitórias, Portugal conseguirá oito pontos que, sem qualquer ponto de bónus, lhe permitirão atingir 18 pontos, ficando assim dependente do resultado do jogo da Rússia em Bruxelas e de uma combinação favorável, com as duas derrotas russas, de pontos de bónus e diferença de resultado com a Rússia (Portugal perdeu em casa na 1ª volta por 31-23), podendo chegar até à diferença de marcados e sofridos.
Enfim, hipóteses ainda há mas, infelizmente, já não dependem apenas de nós - a falta de resultados positivos na época passada será a causa principal mas, como se sabe, não vale a pena chover no molhado. E Portugal pode ganhar à Rússia? Não sendo fácil, jogando em Socchi, pode.
A Rússia, ao contrário da Geórgia e Roménia, pertence à nossa área de competição e, se olharmos para a relação ensaios marcados/ensaios sofridos, confirmaremos que a Rússia, embora tenha marcado o dobro dos nossos ensaios, não se tem mostrado brilhante na segurança da sua área (os gráficos podem ser vistos no XV contra XV). O que significa hipóteses, mas que exigem, nestes quinze dias de intervalo, alterações substantivas de muitas das coisas que se viram em Bruxelas.
E se a vitória na Bélgica é saborosa e nos deixa o descanso necessário para olhar a continuidade e adaptação das políticas de desenvolvimento do râguebi doméstico, não podemos deixar de olhar e ver os inúmeros riscos que corremos sem qualquer necessidade. Que poderia ter posto em causa - não fora as incapacidades quer da equipa belga, quer do seu chutador - uma vitória que o passado e o presente do râguebi português exigiam.
Sejamos claros: uma equipa que é pretendente a uma presença no Mundial não pode cometer, num jogo desta importância, os erros que se viram em Bruxelas. Erros que resultaram de indisciplina colectiva, de displicência individual ou despropósitos tácticos.
Dos factos do jogo fica que a Bélgica marcou pontos no primeiro quarto e por aí se ficou (ver quadro no XV contra XV). Mas a selecção portuguesa, com uma excessiva dose de faltas, proporcionou-lhe diversas hipóteses para que não fosse assim - numa delas, sobre uma formação ordenada a cinco metros da linha de ensaio adversária, deitando fora a oportunidade e deixando o adversário respirar sem esforço, noutras, permitindo tentativas aos postes que poderiam ter alterado a marcha do marcador; mas também por displicência individual como faltas por "irritação", dez metros perdidos interrompendo a pressão portuguesa e aliviando a ocupação territorial para terminar em dois cartões amarelos não admissíveis num jogo desta responsabilidade.
E que dizer, logo à entrada do jogo, do despropósito de escolha de uma formação-ordenada dentro do nosso meio-campo por troca com um pontapé de penalidade? Demasiada descontracção ou, simplesmente, focagem desproporcionada? De tudo isto ressalta uma evidência que tem que ser rapidamente alterada: a selecção portuguesa não cumpre os princípios fundamentais do jogo.
Se os dois ensaios "deitados" fora traduzem falta de reacção que proporcione o apoio necessário, continua a ser exasperante o demasiado tempo de libertação da bola nos “rucks”, interrompendo a continuidade, dando vantagens à defesa e dificultando ou liquidando as manobras atacantes.
Durante o período do jogo de 13 contra 15 as aparências parecem dizer que os jogadores portugueses se baterem de forma heróica - embora não sendo totalmente assim, deve referir-se a qualidade demonstrada: conseguiram criar a pressão necessária, diminuindo o espaço, para provocar os erros belgas.
Mas a realidade, sem pretender beliscar a preciosa vitória, foi que a Bélgica se mostrou uma equipa ainda demasiado débil para jogar ao nível do Grupo A1. E aceitá-lo desde já, alterando o que se deve alterar, é o primeiro passo para poder ganhar na Rússia. E manter a porta aberta...