Hip-hop e rádio são ferramentas para inclusão de jovens

Projecto europeu está a ser desenvolvido em três programas Escolhas, dois no Porto e outro em Coimbra

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A emissão respira hip-hop Bárbara Raquel Moreira

Prepararam um hip-hop de propósito para o programa da RadioActive 101 que vai esta segunda-feira para o ar. Os adultos estiveram a orientar as crianças e jovens ali mesmo, na cave que há tanto acolhe o Metas, um projecto que serve Lordelo do Ouro, na zona ocidental do Porto. Agora, os miúdos fazem coro: “Se tens educação põe a mão no ar/com esta canção só te queremos educar”.

Há três projectos Escolhas, um programa governamental para a inclusão dos jovens, a fazer as esporádicas emissões na RadioActive — destinada a criar uma plataforma para uma rádio pan-europeia na Net, incorporando a ferramenta de Web 2.0. Além do Metas há o Catapulta, do centro histórico do Porto, o Trampolim, de Coimbra.

A ideia veio de fora. O consórcio é liderado pela University of East London, no Reino Unido, e conta com parceiros em Portugal, Alemanha, Malta e Roménia. É, explica Maria José Brites, coordenadora da RadioActive em Portugal, uma tentativa de pôr jovens de contextos socio-económicos desfavorecidos a abordar assuntos de inclusão e cidadania ao mesmo tempo que melhoram a expressão oral, aprendem técnicas radiofónicas, usam as redes sociais para divulgar trabalhos.

Respira-se cultura hip-hop no seio do grupo que está a preparar o novo programa — o oitavo que Portugal põe no ar. Há qualquer coisa de comum entre aquela freguesia que a industrialização encheu de operários e a desindustrialização privou de emprego e os subúrbios negros e latinos de Nova Iorque dos anos 1970. Sobra pobreza, falta perspectiva. Patrícia Costa, a coordenadora do Metas, da Agência de Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro, diz que falta até imaginação. “Não estão habituados a pensar.” Por isso tudo isto lhe parece tão importante.

Eles e a escola

É suposto a rádio incitar a reflectir, mas também a vencer a impaciência, a estabelecer metas de médio ou longo prazo. O dinamizador comunitário Jonas Oliveira, o monitor Renato Florim e o presidente da associação juvenil Ágil é que puxam pelos miúdos. Trabalham com eles dois meses em cada emissão. E notam como, no fim, eles gostam de se ouvir, de reconhecer as suas vozes.

Já dedicaram um programa às artes, outro à comunidade. Este é sobre educação. Anunciam o tema aos miúdos e tentam perceber o que eles gostariam de perguntar, de descobrir. Desta vez, quiseram saber o que são os jovens e o que gostariam de mudar na escola — frequentam, quase todos, a EB 2/3 Leonardo Coimbra.

Saberão, ao ouvir o programa que vai esta segunda-feira para o ar, que há quem gostasse de ver os horários modificados, de modo a ter mais tempo livre, quem queira cacifos, para evitar que os alunos tenham de andar para trás e para a frente com livros e cadernos, quem defenda um novo método de ensino, de modo a tornar a aprendizagem mais divertida, quem deseje trocar de professores e técnicos operacionais, e até quem queira mudar tudo, tudo.

Hoje, o nervosismo regressa pela terceira vez à cabine para controlo técnico da emissão de rádio, com as paredes forradas com embalagens de ovos, pintadas a negro. Um rapaz entrevistará outro em directo — a estrela é Rodrigo Florim, o menino de 13 anos que tem cinco em todas as disciplinas.

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