Trinta segundos. Foi esse o tempo necessário para que “Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa” me fizesse dar uma valente gargalhada. Já há muito tempo que um videojogo não apostava numa loucura tão saudável e, ao mesmo tempo, tão portuguesa.
Lançado em 2013, “Inspector Zé e Robot Palhaço” é o primeiro trabalho desenvolvido pelo recente estúdio Nerd Monkeys. Liderados por Filipe Pina e Diogo Vasconcelos, esta tribo de macacos da selva urbana criaram um jogo que, na sua essência, reflecte a cultura portuguesa. E na minha modesta opinião, de uma forma brilhante.
O jogo é basicamente a história duma investigação policial bem tola. Basta ver qual é o pressuposto desta trama: um homem que se suicidou com 14 facadas nas costas no Hotel Lisboa. Absurdo? Sim! Mas igualmente delicioso.
Desde as saudosas aventuras gráficas da Lucas Arts, como, “Day of the Tentacle”, “Grim Fandango” ou “The Secret of Monkey Island”, que um espaço nos videojogos ficou algo vazio. Este género de jogos perderam algum do seu fulgor, e o humor bizarro tão próprio, praticamente desapareceu. Talvez os Nerd Monkeys não sejam a tribo que o tragam de volta, mas, por agora oferecem uma boa dose de ressaca.
Muitos países europeus já tem a sua marca no mundo dos videojogos: na Polónia temos o exemplo do “Witcher”, na Suécia o “Minecraft”; na Ucrânia o “Metro:Last Light”, na Hungria o “Ecco the Dolphin”... Mas Portugal ainda não conseguiu desenvolver o jogo que o coloque no mundo. O título que só pelo mero nome, seja imediatamente relacionado com o país. Será agora a vez de “Inspector Zé” tentar? Afinal “Inspector Zé”, além da versão portuguesa, tem igualmente uma inglesa (Detective Case and Clown Bot in Murder in the Hotel Lisbon). Pode parecer um pequeno pormenor, mas demonstra com os Nerd Monkeys estão igualmente a lançar-se no mercado internacional.
É fácil imaginar alguém fora de Portugal a pegar no jogo e ser apresentado ao típico eléctrico amarelo, passando pelos caixotes verdes de Lisboa, até aos detalhes na forma portuguesa de encarar o mundo. Talvez de certa forma, o público internacional possa ser assim apresentado não só a um videojogo português, mas também a Portugal. Mas, se calhar estou a ser demasiado optimista e este jogo não seja “aquele” que vai quebrar todas as barreiras e colocar uma cultura estrangeira a falar de Portugal como “o país do Inspector Zé”. No entanto, acho que, sem dúvida nenhuma, o jogo aponta nessa direcção.
Espero que mais estúdios nacionais (Immersive Douro, Drunken Lizard, Bica Studios, entre outros) continuem a arriscar, e que brevemente possamos ver “o” jogo que se torne na nossa bandeira mundial. Até esse dia, faço um último apelo; vão ao site oficial dos Nerd Monkeys e ajudem o Zé e o seu robot nesta investigação. Afinal, com catorze facadas nas costas, se calhar não foi suicídio...