O râguebi (ainda) não é um desporto muito popular em Portugal, apesar do forte impulso que a modalidade sofreu no nosso país após a participação da selecção nacional no Mundial 2007, prova que registou audiências televisivas superiores a quatro mil milhões de espectadores em todo o mundo.
No entanto, para quem pratica, praticou ou simplesmente aprecia, esta é uma modalidade diferente de todas as outras. E é censurável que os portugueses se mantenham tão fiéis ao inevitável futebol. Ao contrário do que os menos conhecedores deste desporto possam pensar, o râguebi está longe de ser uma modalidade violenta. Arrisco mesmo dizer (sendo apreciador de ambos) que o futebol é muito mais descortês.
O râguebi é, isso sim, um desporto de muito contacto físico. Mas isso não é sinónimo de violência. Mas, afinal, o que tem o râguebi de tão diferente? Acima de tudo, concentra uma mentalidade pouco habitual quando comparada com a de outro tipo de desportos.
A melhor forma de o explicar é reproduzir uma frase a que recorreu Tomaz Morais, director técnico nacional, numa entrevista ao PÚBLICO, em 2004: "Costumo dizer que o râguebi é um ensaio para a vida. Nós não queremos que os atletas cheguem aos 30/32 anos e não tenham mais nada para fazer. Queremos o râguebi de uma forma pedagógica e que construa um indivíduo."
E o râguebi é, sem dúvida, uma escola onde se aprende, acima de tudo, a respeitar os adversários e a trabalhar em equipa. No râguebi, nenhum jogador brilha sozinho e os 15 atletas que estão em campo precisam, todos sem excepção, de ter o apoio do colega do lado. Mas o râguebi não se distingue apenas pelo enorme respeito e camaradagem que, regra geral, caracterizam os seus atletas.
Todos os anos, durante o Torneio das Seis Nações, Escócia, Itália, França, Inglaterra, Irlanda e País de Gales defrontam-se. E o que acontece? Enquanto no relvado os jogadores disputam cada jogada como se a última das suas vida de tratasse, nas bancadas os adeptos rivais assistem aos jogos lado a lado, em clima de festa.
Nem insultos, nem "hooligans"
Alguém imagina o que é necessário fazer por parte das forças de segurança quando se trata de um jogo de futebol entre estas selecções? E também não há registo de qualquer lista de adeptos ingleses proibidos de se deslocarem para a Itália ou França para apoiarem a sua selecção. Situações impensáveis quando se fala de futebol.
Vasco Uva, que no passado mês de Novembro se tornou o atleta de râguebi português com mais jogos pela selecção nacional, afirmou pouco depois do Mundial 2007 que os jogadores de râguebi se divertem a assistir às simulações dos jogadores de futebol. "Essas simulações não fazem parte do jogo, é falta de 'fair play', não é essa imagem que o desportista deve passar para a sociedade", referiu. E foi mais longe: "Para jogar na selecção e cantar o hino, é preciso sentir. Nós sentimos, os futebolistas nem tanto".
É esta a cultura que faz do râguebi um desporto que marca a diferença e merece mais atenção dos portugueses. Uma última nota: Se durante Fevereiro e Março tiver a oportunidade de assistir no estádio, pela primeira vez, a uma partida do Torneio das Seis Nações e não encontrar nem adeptos, nem jogadores a insultarem o árbitro, não se assuste. O contrário é que é notícia.