O "capitão" da seleção portuguesa tinha sido votado novamente o melhor do Mundo. Interrompeu a série impressionante de Messi para voltar a sorrir... e chorar. Por todo o Mundo, surgiram artigos de opinião a elogiar CR7, reconhecendo-lhe, entre muitos, o dom da persistência em busca dos mais ambiciosos sonhos. Mesmo quando estes parecem impossíveis de atingir. O Uganda não "conta" no Mundo do futebol, mas nem por isso deixa de ter milhões de fervorosos fãs.
À custa de exuberantes sapatos roxos, com os quais brinco, com educado humor, conheço um jogador de 24 anos que lamenta a sua sorte: “Deixei os estudos para me dedicar ao futebol. Somos 30 milhões de habitantes e 20 milhões jogam futebol. Estou sem clube. Preciso sair do país, pois aqui não terei vida".
Diariamente, estabelecimentos com TV apinhados ate à estrada contam com largas dezenas para espreitar o futebol. Alimentar o vício. No tecido comercial, proliferam casas de apostas. Nas ruas, a camisola da selecção do Uganda é claramente o estilo mais visto, adoptado até por mulheres — goleada às camisolas de qualquer clube ou jogador. Nos autocarros ouve-se o relato até de jogos menores da Liga Inglesa.
Voltemos à história. Estamos em busca de estadia no soberbo lago Bunyonyi. O Arcádia tem vistas fantásticas, mas fica lá no alto, longe do acesso desejado ao lago. E não tem Internet. Descemos para o assombroso Bird Nest quando o pó do táxi quase oculta por completo uma camisola das Quinas. Não podia fugir ao nosso radar. A surpresa da visão — em lugar ermo, distante e pobre — faz-me alertar o taxista.
Os miúdos que brincam estranham a nossa paragem. Até que percebem o motivo. "É nosso compatriota", justifico, apontando para o nome. A camisola é de quando CR ainda vestia o 17. Já tinha o seu espaço, já deixava marca, mas encontrou... Luís Figo, muitos anos dono da mágica "7" da selecção.
O encardido equipamento destaca-se pelo enorme rasgão. Ninguém anda assim, mas este fã do português não quer saber. Ostenta com invejável orgulho o símbolo do seu ídolo. O jovem abandona, por momentos, a timidez e profere curtas, mas explícitas palavras sobre o seu favorito entre todos. "Cristiano Ronaldo, the best. The best player of the world". Voz assertiva, embora pareça acanhado com o seu próprio sorriso. O seu inglês não dá para mais.
Há mais gestos do que palavras. O CR do Uganda recebe o nosso cumprimento africano e voltamos à estrada. Seguiremos o nosso caminho cientes de que nada como o futebol leva o nosso país tão longe, até nos mais recônditos lugares do mundo.