Comparar hipertensão com homossexualidade é mais ou menos como…

Comparar hipertensão com homossexualidade é mais ou menos como… comparar o acto de cortar as unhas com fazer uma tese de Mestrado. É um dislate, é uma afirmação serôdia

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Alessandro Bianchi/Reuters

O futuro cardeal espanhol em Roma Fernando Sebastián disse, “com todo o respeito”, ao jornal "Sur de Malaga", que a homossexualidade “ é uma forma deficiente de expressar a sexualidade, que tem uma estrutura e um objectivo que é a procriação”. Ora, “com todo o respeito”, creio que o decano Fernando Sebastián (84 anos) está a violar o primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.”

O arcebispo emérito de Pamplona acrescentou esta pérola: “No nosso corpo temos muitas deficiências. Eu tenho hipertensão. É uma deficiência que devo corrigir como posso. Mostrar a um homossexual uma deficiência não é uma ofensa, é uma ajuda porque vários casos de homossexualidade são recuperáveis e podem ser tratados com tratamento adequado.”

A “deficiência” de Fernando Sebastián deveria merecer a atenção imediata das mais altas instâncias não da Igreja, mas sim das instituições geriátricas internacionais. Comparar hipertensão com homossexualidade é mais ou menos como… comparar o acto de cortar as unhas com fazer uma tese de Mestrado. É um dislate, é uma afirmação serôdia.

As reacções contra as palavras do ainda arcebispo varreram praticamente todo o espectro político espanhol, dos partidos de esquerda ao PP. Foram muitas as indignações nos meios de comunicação cocial e nas redes sociais, uma das quais de Nicolás Fernández, do colectivo Entiende, que classificou estas afirmações como “próprias da Idade Média”.

Nem de propósito, foi apresentado em Berlim esta terça-feira o relatório anual da Human Rights Watch (HRW), que revela um aumento da intolerância e das violações dos direitos humanos, em especial o racismo e a discriminação, na União Europeia (UE). “Muita conversa sobre direitos, poucos resultados” é o nome do relatório da HRW, que aponta “o racismo e a homofobia” como “problemas graves na UE, tendo dado origem a apelos do Parlamento Europeu e do Conselho da Europa para um esforço maior de combate às formas mais extremas de intolerância”.

O cardeal emérito de Pamplona não deverá, suponho, passar sequer os olhos por este relatório. Mas lembra-se seguramente das palavras do Papa Francisco, quando este disse não ser ninguém para julgar os homossexuais. Numa Europa em que, apesar dos esforços de alguns países na defesa dos Direitos Humanos, não há uma verdadeira política comum no tratamento de questões sensíveis como a emigração (sobretudo a oriunda de África), os refugiados, os sem-abrigo, os ciganos, ou seja, todos aqueles que estão na base da pirâmide, isto deveria fazer Francisco Sebastián pensar duas vezes antes de atirar parvoíces boca fora.

E se, como referiu na mesma entrevista ao "Sur de Malaga", em 2006 o então cardeal Bergoglio disse que acompanhava todos os escritos de Sebastián e que era seu aluno, há fortes motivos para preocupação com esta nomeação. Todos temos o dever de fazer evoluir a nossa forma de pensar, adaptá-la aos tempos em que vivemos, e é isso que o agora Papa Francisco tem vindo a demonstrar. Esperemos que o Sumo Pontífice, depois de ler a entrevista, emende a mão e exerça a sua magistratura de influência para “convidar” Francisco Sebastián a pedir desculpas públicas por estar a fomentar a discriminação, impedindo assim a javardice moral na Igreja. 

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