Quando abri o site do Público este domingo, sorri instantaneamente ao ler o seguinte título “Investigadores não sabem para onde vai a ciência portuguesa”. Sorri e tenho a certeza que a minha reacção se reproduziu em muitas casas, de muitos investigadores, que, como eu, sorriram, não porque há nesta frase motivos para sorrir, mas porque ela incita aquele sorriso desculpante de meio gozo, de quem sabe que o autor não podia estar mais longe da verdade.
Deixei Portugal em Setembro de 2011 porque apesar de ter conquistado um bom emprego — não graças ao meu país, mas ao meu esforço —, nem toda a minha genialidade (a existir) me teria permitido fazer em Portugal o que fui fazer para o estrangeiro. Saí com um propósito claro: tirar um mestrado que não poderia tirar em Portugal, porque simplesmente não existia.
Quando entrei no avião que me esperava no Francisco Sá Carneiro, nunca me passou pela cabeça a ideia que alegadamente passa pela cabeça de todos os jovens qualificados que emigram. Refiro-me à ideia do “vou porque o meu pais não me deixa ficar”, acompanhada da profunda tristeza de deixar para trás tudo o que amamos. Nunca me passou pela cabeça, nem passa, a ideia de que nunca mais poderei voltar a Portugal porque não sei “para onde vai a ciência portuguesa”.
Neste momento, vejo-me, a mim e a todos que como eu se especializaram e começaram a trabalhar no estrangeiro, como um “work in progress”. Portugal não investiu em mim para agora outro país tirar proveito como ouço frequentemente dizer. Continuo num processo de desenvolvimento e aprendizagem, aproveitando o que outros têm para me ensinar, e posso, a qualquer altura, retribuir ao meu país o investimento que ele fez em mim, desde que ele um dia, daqui a um, cinco ou dez anos, me deixe fazer isso.
Ninguém fugiu para lado nenhum. Continuamos aqui e somos “material recuperável” a qualquer momento. Longe de não querermos voltar para Portugal, mostramos todos os dias aos outros a qualidade da educação que nos foi dada, damos a conhecer as boas instituições que nos formaram e ajudamos assim a rotular o nosso país de verdadeira “fábrica de cérebros”.
Infelizmente, sabemos e bem para onde pode ir a ciência em Portugal. Não queremos que isso aconteça. Se acontecer, continuaremos aqui, a fazer ciência, talvez não em Portugal, mas escrita em português.