Foi aprovada sexta-feira na Assembleia da República a proposta de referendo à co-adopção. Desonestidades democráticas e inconstitucionalidades à parte, a dúvida maior é onde é que de facto se quer chegar com tudo isto. Ou talvez não haja dúvida nenhuma. O assunto arrasta-se em nome da necessidade de debate sendo que debater até é o que menos interessa quando o objectivo último é um só: reverter uma lei aprovada de mãos lavadas.
É que se diz muita coisa sobre o assunto. Na maioria das vezes pouco informada, mas ainda assim muita coisa. Que as crianças precisam de referências, pai e mãe, masculino e feminino. Que não se desenvolvem emocionalmente de forma equilibrada. Que têm maior probabilidade de vir a “optar” pela homossexualidade. Que vão ser discriminadas pelos pares. E outros disparates deste género. Não lhes sei dar outro nome. Todos caem por terra com menos de meia dúzia de exemplos e com aquilo que a própria ciência mostra e torna a mostrar. É não querer ver. Ou eventualmente não saber como. Mas quanto a isso há solução.
As crianças precisam de ser amadas e principalmente sentir que o são. Precisam de ser e sentir-se protegidas, precisam de saber que fazem a diferença na vida de alguém. Precisam de entender que têm um papel no mundo e de alguém que as oriente para o desempenhar da melhor forma, com justiça e respeito pelos outros. Precisam que lhes seja mostrada a diferença entre o certo e o errado e acima de tudo que sejam ensinadas a pensar pelas suas próprias cabeças. E precisam de ser defendidas por quem tem o poder de as defender. Nada disto depende da orientação sexual das mães e dos pais para ser cumprido. As crianças precisam, sim, de quem as suporte sem ceder a pressões teimosas e descontextualizadas do mundo de hoje.
Este referendo é duplamente desonesto. Pelos moldes em que foi concebido e por ser uma falsa oportunidade de expressão. É perguntar por pontos de vista, muitas vezes impostos e desinformados, que em nada contribuem para o desenvolvimento da sociedade. As pessoas precisam de conviver com a mudança para aprender a aceitá-la, perceber o que de bom traz. Só assim se progride. A sociedade muda, desde que se lhe dê oportunidade de mudar.