Mês de Julho. Fim dos estudos e o início de uma nova fase: mercado de trabalho. Vivemos um momento que deveria ser eterno! A partir daquele dia desaparece a azáfama de cumprir deadlines. Só nos apetece enviar SMS, ligar e confraternizar com os amigos. Entram na mailbox mensagens: “Parabéns Sr. Dr.!”.
A nossa confiança aumenta e tudo parece encaminhado. Em casa os pais encontram-se felicíssimos com a nossa situação. É tudo graças ao pa(i)trocínio deles. No dia seguinte iniciam-se os rascunhos nos cadernos que sobraram dos estudos, começamos a delinear uma estratégia de procura de emprego. Corremos até ao instituto de emprego e fazemos o nosso registo, lento e moroso. Perguntamos por ofertas, ninguém sabe responder. Ficamos desnorteados mas o registo fica concluído. Passamos de “Sr. Dr” para desempregados. Felizmente não é preciso pagar.
Nesse dia começam as inscrições nos “sites” de emprego e organizamos os detalhes do currículo. Estamos prontos para enviar as nossas candidaturas. Os “sites” de emprego transformam-se rapidamente no nosso horizonte de esperança. Estes passam a ser a nossa plataforma de contacto com o mercado de trabalho. Uma plataforma muda e com resposta programada. Somos tratados como uma máquina: “O seu currículo será remitido ao responsável pelo assunto”. É uma espécie de mandamento inerente ao estatuto de desempregado. Um mandamento doloroso, que nos espezinha e atira para um espaço negro sem futuro. Essa resposta passa de uma para dezenas num espaço de meses. A nossa confiança começa a diminuir. Somos novos e já temos vida de reformados.
Os dias tornam-se repetitivos. Acordar, ligar o computador, consultar trabalhos, enviar currículos, receber resposta automática. Os dias são penosos e o convite para trabalhar não entra na “mailbox”.
Consideramos se a nossa estratégia é a mais correcta. E não é. Pensamos em entregar pessoalmente os CV nas empresas, mas depois verificamos que não temos dinheiro para deslocações de grande distância (eu sou de Torre de Moncorvo, distrito de Bragança).
Cria-se um sentimento de revolta, pensamos em arriscar ao máximo e abandonar a região. Procuramos trabalho noutra área e eles existem, mas não cobrem a despesa. Despesas correntes, custo de vida no litoral, não compensa. O problema cresce e o sentimento de revolta alcança proporções incontroláveis. Mais um dia, mais do mesmo: ligar o computador, consultar trabalhos, enviar currículos, receber resposta automática. Por vezes somos vangloriados com um telefonema a felicitar pelo excelente currículo, contudo relembram que não necessitam de reforçar os quadros de recursos humanos.
Este é segundo mandamento dos desempregados. Passou meio ano, estamos em Janeiro e desejamos que o novo ano corra melhor. E existe um novo conceito: não estamos desempregados, estamos sim na procura activa de emprego. Mas continuamos reformados. Contudo não pensem que ser desempregado significa estar parado, comigo isso não acontece. Dedico muita da minha vida à educação não formal.
Sou dirigente associativo e líder concelhio de uma juventude partidária. Este é outro problema para o mundo laboral. As empresas não apreciam jovens com pensamentos políticos. Isto deixa-me atónito com a actual sociedade. Afinal essa liberdade de pensamento foi conquistada. Que mal tem um jovem preocupar-se com o futuro do concelho e do país? Quem perde é Portugal! Assim é a vida de (re)formado.