PS entre o irritado, o envergonhado e o enraivecido com o caso Pinho

Pedido do PSD para ouvir Manuel Pinho na comissão de Economia foi aprovado com a abstenção do BE, que prefere apostar na comissão de inquérito.

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Manuel Pinho não respondeu se continuou a ser pago pelo GES enquanto ministro Rui Gaudêncio

Rui Rio foi o primeiro a manifestar incómodo com o silêncio de Manuel Pinho, estranhando o facto de o ex-ministro de José Sócrates não ter vindo a público defender-se das acusações de que é alvo, mas agora também o PS começa a mostrar-se incomodado com a falta de explicações do antigo governante – e com a promessa de nada dizer no Parlamento, caso seja convocado para uma audição no âmbito da comissão de Economia ou da comissão de inquérito que o Bloco propôs.

Na terça-feira à noite, o autarca socialista de Lisboa Fernando Medina disse na TVI que este silêncio é “muito prejudicial para a imagem dos políticos e da vida pública”. E deixou um reparo: “Manuel Pinho já devia ter respondido à pergunta 'é verdade ou não' [que recebia do BES]'”? Na própria direcção do PS há quem estranhe esta falta de resposta.

Já esta quarta-feira, na TSF, o líder parlamentar e presidente do PS, Carlos César, afirmou que o partido se sente “envergonhado” com suspeitas como as que recaem sobre o antigo ministro Manuel Pinho e até “enraivecido” com situações como essa. E a vergonha é “ainda maior” quanto ao processo de José Sócrates, por se tratar de um ex-primeiro-ministro, reconheceu.

"A confirmar-se, é uma situação incompreensível e lamentável", disse o presidente do PS e líder da bancada parlamentar no programa Almoços Grátis, da TSF, falando a propósito do "caso Pinho".

Defendendo que o PS tem tradição e responsabilidade no combate à corrupção, Carlos César defendeu que este caso "tem de ser esclarecido e punido", tal como aconteceu com “outros casos de vários ministros e responsáveis que, na banca ou na política, tiveram comportamentos desviantes, irregulares ou até de alçada criminal."

César confirmou a abertura do PS para aprovar a comissão de inquérito pedida pelo BE, por considerar que é a forma adequada para analisar as responsabilidades políticas dos suspeitos. “É através de uma comissão de inquérito, a nosso ver, que melhor se poderá resolver este assunto", defendeu, acrescentando: "Quando os políticos se encontram perante a necessidade de escrutinar alguém sob alçada da justiça não podem nem devem prescindir de o fazer."

César garantiu ainda que estes casos são analisados nas reuniões internas do partido: "Ficamos até enraivecidos com isto", em especial com "pessoas que se aproveitam dos partidos políticos".

Marcelo em silêncio

Na reunião da comissão de Economia, durante a qual foi discutida a futura audição de Manuel Pinho, Carlos Pereira, do PS, limitou-se a reiterar que votaria a favor do requerimento do PSD, como já tinha sido assumido na passada segunda-feira por Carlos César, independentemente de ter surgido entretanto uma proposta de comissão de inquérito sobre as rendas na energia.

O requerimento do PSD para ouvir o ex-ministro da Economia foi aprovado com o voto favorável de todas as bancadas, à excepção do BE que se absteve.

Emídio Guerreiro, vice-presidente da bancada social-democrata, sustentou que Manuel Pinho deveria “prestar esclarecimentos” no Parlamento sobre notícias publicadas nos últimos dias, sem se referir directamente aos alegados recebimentos de dinheiro, enquanto ministro, pagos pelo Grupo Espírito Santo. O deputado separou o caso político da situação na justiça, mas sublinhou que é necessário “trazer para a política o que faz parte da política: o comportamento dos decisores, o seu trajecto e as consequências”.  

Na mesma linha  do PSD, o deputado Pedro Mota Soares, do CDS, defendeu ser “muito relevante obter explicações políticas sobre factos novos”, sublinhando que os centristas   não confundem “o plano judicial com o plano político”.

O deputado bloquista Heitor Sousa defendeu que a audição deveria realizar-se no âmbito da comissão parlamentar de inquérito proposta esta quarta-feira pela sua bancada sobre as rendas na energia. Foi o único deputado a colocar mais objecções à audição de Pinho na comissão de Economia.

Bruno Dias, do PCP, considerou que se deveria fazer uma “abordagem mais abrangente” da “subordinação do poder político ao poder económico” e que isso não se resume a Manuel Pinho. “Não queremos que esta matéria se reduza a casos mais mediáticos que permitam ocultar os problemas”, afirmou o deputado comunista.

Os deputados do PSD e do CDS argumentaram que remeter a audição do ex-ministro para uma comissão de inquérito demora mais tempo, já que este tipo de iniciativas tem os seus trâmites próprios.

Apesar de o PSD ter avançado com a sua iniciativa, Rui Rio defendeu que uma comissão de inquérito às rendas da energia se “pode justificar”, já que a questão “é efectivamente um problema sério”, com “história e responsáveis lá para trás”.

Já o Presidente da República preferiu não comentar “comissões parlamentares de inquérito”, quando questionado sobre a iniciativa de o Parlamento investigar Manuel Pinho. “Acompanho com interesse e respeito, mas no âmbito da separação de poderes não formulo opiniões sobre a actuação do Parlamento", declarou ontem Marcelo Rebelo de Sousa.

 Com discussão e votação marcada para a próxima semana, dia 11, a proposta de comissão de inquérito apresentada pelo BE sobre as rendas da energia abrange os governos entre 2004 e 2018, ou seja os executivos liderados por Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Sócrates, Pedro Passos Coelho e António Costa.

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