A ideia de que milhares de pessoas saiam às ruas, enfrentando o frio e a polícia, em defesa do sonho de integração europeia soa estranha a quem se habituou a rimar União Europeia (UE) com as palavras crise e austeridade. Mas para os jovens ucranianos, os primeiros a mobilizarem-se contra o recuo do Presidente Vicktor Ianukovich, a perspectiva, mesmo longínqua de adesão, é vista como um passaporte para uma Ucrânia mais próspera e democrática.
Organizados através das redes sociais, os jovens que encheram nos primeiros dias a Praça da Independência — rebaptizada de Euromaidan, ou praça da Europa — pertencem à primeira geração que nasceu depois do fim da URSS e se sente mais próxima da UE do que de Moscovo. Mas conhece bem as teias que continuam a prender o país ao passado: a corrupção, o poder dos oligarcas, uma justiça que é tudo menos isenta.
Para os que se manifestam, a UE representa o oposto de tudo isto e, mesmo que o acordo de oferecido por Bruxelas não prometesse a adesão e os incentivos económicos fossem modestos, abria perspectivas de reformas que poderiam aproximar a Ucrânia dos padrões europeus.
"Queremos que a Ucrânia seja um membro de pleno direito da Europa. Queremos viver em dignidade", dizia à Rádio Europa Livre Boris Poshivak, líder estudantil em Lviv, a pró-europeia cidade do Oeste.
A "grande traição de Ianukovich funcionou como um electrochoque e reanimou o espectro da Ucrânia sob o feudo de Moscovo", escreveu o jornalista do "Le Monde" Piotr Smolar — um receio que a carga policial do fim-de-semana agravou, afirma.