Se, tal como eu, tiveram o privilégio de estar presente nos anos 80 e 90, também desfrutaram da magia nos salões de arcade. Muito antes da internet, era ali que se descobriam as novas direcções da indústria dos videojogos.
Uma visita aos salões de arcades tinha vários objectivos. Sim, íamos com o intuito de jogar, mas, por outro lado aproveitávamos para ver os futuros títulos para as consolas ou computadores. Uma espécie de pré-visualização.
Foi na mítica Feira Popular de Lisboa que vi pela primeira vez a sequela de Mortal Kombat, assim como Virtua Racing, Virtua Fighter e Super Sidekicks 3. Sem esquecer os magníficos cockpits do After Burner, Hang-On e Out Run. Ainda me lembro do amontoado de pessoas à volta do jogo do momento. E ali, trocavam-se informações preciosas, faziam-se ameaças, criavam-se lendas, ouvia-se exclamações de espanto e riamos. Podia não conhecer a pessoa ao meu lado, mas em menos de cinco minutos falávamos como se fossemos amigos há mais de dez anos.
Curiosamente também fui expulso umas quantas vezes. Não por ter feito algo de mal, mas sim porque havia um decreto de lei português que proibia jovens menores de 18 anos de estarem junto das máquinas de arcade. O que era extremamente estranho, sendo eu o público alvo, havia uma lei para me afastar das máquinas que se destinavam… a mim!
Com o passar dos anos, o advento da internet e os sistemas domésticos cada vez mais poderosos, as arcades foram caindo no esquecimento. Nem cockpits inovadores como o DDR as conseguiram salvar nos mercados ocidentais (apesar disso, no oriente ainda são um grande ponto de referência). Afinal, porquê ir às arcades, quando a experiência em casa é semelhante, e por ventura, mais barata. Quanto ao convívio, a internet preencheu esse papel. Ainda se ouvem as mesmas coisas, incluindo as ameaças e risos, mas agora é tudo mais controlado.
Os salões ainda existem hoje, mas claro, nem tem uma fracção da popularidade que uma vez tiveram. Já ninguém anda a poupar moedas para gastar na máquina que estava no café da esquina. Agora temos uma experiência diferente.
Se tenho saudades das romarias aos salões de arcade? Sim. Hoje estou pior? Não, longe disso.