Cem mil imigrantes por ano, segundo dados da UNHCR — a agência de refugiados da ONU — entram em território grego. Oriundos de países do Médio Oriente, de países africanos e ex-Jugoslávia, abandonam os seus países por razões económicas ou em fuga a situações de guerra ou perseguição. É com a certeza da protecção estatal e do conforto da solidariedade social expectável — pela fama do humanitarismo europeu — que muitos rumam em direcção à Grécia. No entanto, a realidade com que se deparam é diametralmente oposta àquela a que aspiravam.
O governo grego presta pouco auxílio aos imigrantes. Os fundos comunitários atribuídos pela União Europeia à Grécia para o acolhimento deste grupo são uma resposta ineficaz face à entrada de tantos imigrantes. São escassas ou desadequadas as infra-estruturas de apoio. As organizações não-governamentais gregas assumem metade da responsabilidade pela gestão deste problema, provendo habitação, alimentação e apoio jurídico a este grupo. A outra metade é assumida pelo Governo, com a criação de centros de detenção. Estes têm a reputação de serem locais de violação de direitos humanos, pela sobrelotação, limitação da liberdade individual, falta de condições de higiene e cuidados médicos e detêm, contra a vontade, cerca de cinco mil imigrantes, entre os quais crianças. Estes "apoios" são insuficientes e chegam a apenas uma minoria dos que necessitam. Os restantes imigrantes ficam entregues a si mesmos.
Sozinhos, tornam-se responsáveis pela sua própria sobrevivência. O acesso ao trabalho está condicionado pela situação de ilegalidade ou semi-legalidade em que se encontram e dedicam-se, não raramente, ao crime como forma de subsistência — sublinhe-se que "crime" determina, por vezes, a mera venda ambulante de artigos sem factura/recibo. Encontram-se muito comummente numa situação de ilegalidade, não sendo esta um sinónimo de desonestidade.
Bodes expiatórios
A Aurora Dourada é um partido de extrema-direita grego que cresceu em flecha na eleição de 2012. Este partido ultra-nacionalista fez dois bodes expiatórios para a crise: os imigrantes e o sistema democrático e respectivos agentes. As acções xenófobas e racistas que promovem aumentam de dimensão e gravidade a cada dia. Muitas são as vítimas de grupos de jovens nacionalistas armados que ofendem e maltratam em nome da supremacia de raça e superioridade helénica, valores presentes na propaganda neo-nazi do partido. Estes grupos percorrem, durante a noite, bairros onde há maior concentração de imigrantes e atacam indivíduos com base na cor da pele.
Como aconteceu com H., um imigrante do Sudão que vive em Atenas. Foi atacado por um grupo neo-nazi no ano passado e as lesões físicas e psicológicas são ainda bem visíveis. H. tem medo de andar nas ruas de Atenas, de dia e de noite. A sua situação de ilegalidade fá-lo temer um encontro com a polícia de dia; à noite estremece com a ideia de um novo ataque racista.
H. quer abandonar a Grécia. Escapou do Sudão para evitar conflito armado. Deveria ter direito ao estatuto de refugiado mas este foi-lhe negado pelo governo grego. Pretende agora fugir da Grécia, vítima de perseguição com base no preconceito de raça, mas terá de obter um passaporte falso para poder sair do país. Temendo pela sua segurança, em constante ilegalidade, H. caminha em direcção a um futuro cada vez mais incerto.